“Foi um tremendo barato.” (Tarso de Castro in “Aviso à Praça”, O Pasquim nº 72)
No princípio, o disclaimer. Se você é chegado em astrologia (incluindo Olavo de Carvalho) ou linguagem neutra, acredita em tratamentos sem eficácia comprovada (como ostras) ou em “racismo reverso” (e por extensão considera piada de português “colonialismo reverso” ou o raio que o parta), se ajusta religiosamente a sobrancelha, encera o capô do carro ou malha glúteos (não necessariamente nessa ordem), se só faz churrasco de bisteca de soja, só curte cerveja sem álcool, ou no máximo encara drinque com uma parte de gim (ou, horror, horror: aperol) para vinte partes de gelo; se participa de “tuitaço” ou faz “greve do clima”, se considera Yuval Harari o maior profeta desde Habacuc, se toca duas para o Mito diariamente, então escuta meu conselho, bicho: melhor parar por aqui. Depois não vai choramingar no ouvido do “papito”.
Continua aqui? Parabéns, gafanhoto! A Humanidade deposita em você as últimas esperanças de um futuro menos babaca. Quiçá vocês ainda consigam encher uma churrascaria? A ficha para confirmação de presença será enviada em breve para a sua caixa postal.
Pois bem, como disse ali em cima o saudoso bon-vivant, cofundador e diretor d´O Pasquim, Tarso de Castro, ao se declarar na caradura réu-confesso de tudo do bom e do melhor que curtiu com as receitas do hebdomadário (“imoralismo total, farras permanentes, entrega total aos prazeres do vício, colocação do sexo a qualquer custo, em todos os momentos da minha vida, enfim, uma orgia total coroada de cifrões ”): aquilo que foi um barato, mas acabou.
O mesmo poderia dizer Simão Pessoa, sobre o mundo perdido, pregresso, primordial e hoje quase mítico onde o autor, ao que consta desde tenra idade, deu os primeiros passos nas searas do Conhecimento. Especificamente o conhecimento bíblico junto ao sexo feminino. Trocando as madeleines, que é coisa de francês perobo, pelas ampolas de Original canela-de-pedreiro, eis que lá está Mestre Simão, à la recherche du temps perdu (êpa), a recordar seus tempos de espada neófito, devidamente amparado/inspirado pelos catecismos do Zéfiro e pelas diabruras da Valentina do título.
Pelas minhas contas, a heroína conjurada pelo nanquim do finado Guido Crepax anda beirando os oitenta anos e vai muito bem, grazie. Continua dando um caldo, a veneranda (mais uns anos de avanços na arte da recauchutagem e os 80 serão os novos 40). Só que tem que, no atual mundo pós-fim-da-história, nossa fotógrafa milanesa bissexual favorita vem tendo que recorrer cada vez mais às amiguinhas, dada a extinção em massa do “amante latino”, aquele grande símio que apronta por aqui desde tempos pré-abraâmicos. Ou vocês acreditam que a atual cepa de galãs peso frango capitaneada por tipos como Timothée Chalamet, Robert Pattinson e Jesuíta Barbosa é sequer vagamente chegada na ortodoxia?
A tarefa a que o lobo solitário Simão se propõe diante desse cenário de caos e terra arrasada é homérica: destrinchar, com as máximas minúcias e sem os mínimos pundonores (sim, madama, vai ter fodelança aqui, e muita) a saga da irresistível ascensão e queda do “homem macho do sexo masculino alfa”, de espécie dominante a item empoeirado de museu de taxonomia. E de quebra resgatar você, meu jovem, do fundo dos escombros e assumir seu lado macho. Para dar conta do recado, o sacana, além de gozar de uma memória prodigiosa (o Google o consulta de vez em quando), tem um faro para caçar e catalogar causos esconsos da cultura universal que nem o curandeiro tarado de Viena (Sigmundão) ou seu pupilo rebelde mais picareta (Junguinho) dariam conta.
Simão Pessoa entrega aqui uma De Rerum Natura da boa e velha sacanagem, com lugar garantido no índex dos politicamente corretos, das bolhas de internet e dos CACs (Canceladores, Aruás e Caga-regras) de sobreaviso. Passando pela Pré-História até o MeToo, transitando pelas esquinas e descaminhos da Evolução das Espécies, dos Neandertais até os Wokes, do bonobo até o passarinho caga-pau. Entonces, como diabos classificar esse mais recente petardo do nosso último legionário? Uma Summa Theologica do rala-e-rola? Um almanaque alucinante e polissêmico do forrobodó? Ou simplesmente um livro de ensaios para causar câimbras no cerebelo de tanto rir? E o próprio Simão-em-si, seria ele um alto filósofo ou um filósofo alto? A bola está contigo, onívoro leitor, mon frère, mon semblable.
Ao fim e ao cabo, Simão é provavelmente nosso “last man standing” e só nos resta torcer para que o sujeito siga firme na torcida do Vasco e na trincheira contra os bárbaros. E que não apareça qualquer dia avisando que virou vegano. Porque aí, meu chapa, babau. Estará rompido o sétimo selo, se é que me entendes.
P.S.1 Simão, Guido Crepax manda aquele abraço daqui.
P.S.2 Pois ia esquecendo de mandar aquele foda-se com PH maiúsculo para os isentões. Como diz o Sábio: “todo isentão dá a bunda. Ou então está na fila do alistamento pra começar a dar.” Isso também vale para a galera dos CACs (Canceladores, Aruás e Caga-Regras).
(*) Fran Pacheco, membro honorário da AMOAL, é anarquista, falecido, frequentava a alta e baixa boêmia do Ciclo da Borracha e batia ponto no Club dos Terríveis. O presente manuscrito foi psicografado numa orgia pagã em Paricatuba.
N. R.: A primeira tiragem do livro, de 300 exemplares, está praticamente esgotada e não haverá reimpressão. Restam apenas 27 exemplares. Quem quiser adquirir o seu, tem que fazer um pix de R$ 50 (cinquenta reais) para o CPF 034.301.622-20 e enviar o endereço para entrega com o comprovante do pix para o whatsapp (92) 99296-9998. Seu Natal nunca mais será comemorado da mesma maneira, padawan. Papo sério!