Boca do Inferno

Ozzy Osbourne e a pomba da paz

Postado por Simão Pessoa

No dia 27 de março de 1981, Ozzy Osbourne arrancou a cabeça de um pombo à dentadas, durante uma reunião na CBS para promover o álbum “Blizzard Of Ozz” nos EUA. Aqui ele dá a sua versão para a presepada:

A reunião foi uma merda. Um monte de sorrisos falsos e apertos de mãos fracos. Aí alguém me falou como estavam animados porque Adam Ant estava vindo para os Estados Unidos. Adam Ant? Eu quase acerto a cara daquele veado quando disse isso.

Era óbvio que nenhum deles estava nem aí. Até a garota que era relações-públicas só ficava olhando para o relógio. Mas a reunião continuou enquanto todos esses caras de terno e relógio de ouro falavam besteiras de marketing corporativo, até que eu fiquei puto esperando que Sharon me desse a dica para soltar as pombas no ar.

No final, eu me levantei, andei pela sala, sentei-me no braço da cadeira da garota de RP e tirei uma pomba do meu bolso.

— Ah, que linda — ela falou, dando um sorriso falso.

E olhou de novo para seu relógio.

É isso, pensei.

Abri minha boca o máximo possível.

Do outro lado da sala, vi Sharon estremecer.

Aí comecei: chomp, spit.

A cabeça da pomba caiu no colo da garota, salpicando sangue. Para ser honesto com vocês, eu estava tão bêbado que tinha gosto de Cointreau. Bom: Cointreau e penas. E um pouco de bico. Aí joguei a carcaça na mesa e olhei enquanto se mexia. O pássaro tinha se cagado quando eu mordi seu pescoço e a coisa havia se espalhado por todos os lados.

O vestido da garota RP estava manchado com essa gosma nojenta marrom e branca, e minha jaqueta, uma coisa amarela horrenda típica dos anos 80 com desenhos de Rupert, o Urso estava completamente arruinada. Até hoje, não tenho a mínima ideia do que pensei. Pobre pomba. Mas vou dizer uma coisa: causou uma impressão sem dúvida.

Por um segundo, tudo que consegui ouvir foi todo mundo respirando fundo ao mesmo tempo e o fotógrafo no canto clicando tudo.

Aí, começou o pandemônio.

A garota começou a gritar, enquanto um cara de terno correu até o lixo no canto e vomitou. Os alarmes começaram a tocar, quando alguém gritou no telefone chamando a segurança.

— TIRE ESSE ANIMAL DAQUI! AGORA!

Nesse momento, tirei a outra pomba do meu bolso.

— Olá, passarinho — falei, dando um beijo na cabeça dela — Meu nome é Ozzy Osbourne. E estou aqui para divulgar meu novo disco, Blizzard of Ozz.

Abri a boca e todo mundo na sala gritou “NÃOOOOO!” As pessoas estavam cobrindo seus olhos com os braços e gritando para que eu parasse e fosse embora dali. Mas em vez de arrancar a cabeça dela, deixei-a voar. Ela saiu batendo as assas e feliz pela sala.

— Paz — falei, quando dois seguranças entraram na sala, agarraram-me pelos braços e me arrastaram para fora. O pânico naquele lugar era insano, cara.

Fonte: “Eu sou Ozzy, parte dois: Recomeço”, capítulo 7. Des Moines, página 215 e 216.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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