Por Antônio Maria
Recebo carta de um amigo (mora em Nova York), contando que uma brasileira andou por lá, houve aquele encontro casual, sentaram-se num bar e, no segundo whisky, já a moça havia lançado o desafio:
– Sabe que, há cinco anos, eu esperava por este momento?
Daí por diante, sabe como é … Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim. Horas adoráveis, em bares de pouca gente. Juras infinitas, confissões sufocantes, até chegarem à conclusão do poeta Leone, de que nasceram um para o outro dessa argila de que são feitas as criaturas raras. Na vitrola, uma canção, que os dois adotaram como hino. Mais uns dias, e as despedidas, no aeroporto de Idlewidle (aposto meu ordenado contra o do revisor como essa palavra não se escreve assim).
Agora, o amigo me escreve, com o coração na tipóia. Não come, não dorme… mas beber, bebe. Vontade de trabalhar, se sempre teve pouca, agora acabou. Bem feito. Quem mandou se meter com brasileira fora do Brasil?
Se aqui já não são de brincadeira, em Paris ou Nova York é preciso ter um caráter assim como o do Brigadeiro Eduardo Gomes, para aguentá-las.
Inventam mágicas, enredam histórias e fazem tantas gracinhas que o camarada, quando se dá conta, está colonizado pelos seus encantos. O brasileiro cauto, ao encontrar uma brasileira em qualquer cidade do mundo (a não ser em Buenos Aires, que elas ficam chatíssimas), se o encontro é na rua, a primeira coisa que deve fazer é mudar de calçada. Se é num bar e se as circunstâncias os reuniram numa mesma mesa, a providência é tratá-la no plano cerimonioso do “prezada senhora”. Nem por sombra, conversar sobre os respectivos espíritos, descobrir afinidades, porque isso acaba sempre em um acender o cigarro do outro, e, daí em diante, é desdita para o Palestra.
Meu caro amigo, lamento as dores que lhe oprimem o peito, mas não posso fazer nada. De outra vez, seja homem e não capitule. Aqui, devo dizer-lhe que a manhã está linda. E já disse muito.
(Publicado no jornal Última Hora em 9 de fevereiro de 1960)