Por Rubem Braga
Já contei em uma crônica a primeira vez que vi meu nome em letra de forma: foi no jornalzinho “O ltapemirim”, órgão oficial do Grêmio Domingos Martins, dos alunos do colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim.
O professor de Português passara uma composição “A Lágrima” – e meu trabalho foi julgado tão bom que mereceu a honra de ser publicado.
Eu ainda estava no curso secundário quando um de meus irmãos mais velhos, Armando, fundou em Cachoeiro um jornal que existe até hoje – o “Correio do Sul”.
Fui convidado a escrever alguma coisa, o que também aconteceu com meu irmão Newton, que fazia principalmente poemas.
Eu escrevia artigos e crônicas sobre assuntos os mais variados; no verão mandava da praia de Marataizes uma crônica regular, chamada “Correio Maratimba”.
Quando fui para o Rio (na verdade para Niterói) por volta dos 15 anos, mandava correspondência para o Correio.
Continuei a fazer o mesmo em 1931, quando mudei para Belo Horizonte.
A essa altura meu irmão Newton trabalhava na redação do “Diário da Tarde” de Minas.
Em começo de 1932 ele deixou o emprego e voltou para Cachoeiro; herdei seu lugar no jornal.
Passei então a escrever diária e efetivamente, e fui aprendendo a redigir com os profissionais como Octavio Xavier Ferreira e Newton Prates.
Quando terminei meu curso de Direito, resolvi continuar trabalhando em jornal.
Fazia crônicas, reportagens e serviços de redação.
Ainda em 1932 tive uma experiência bastante séria: fui fazer reportagem na frente de guerra da Mantiqueira missão aventurosa porque a direção de meu jornal era favorável à Revolução Constitucionalista dos paulistas, e eu estava na frente getulista.
Acabei preso e mandado de volta.
A essa altura eu já era um profissional de imprensa, e nunca mais deixei de ser.
(publicado no livro “Para Gostar de Ler – Volume 4 – Crônicas”, Editora Ática – São Paulo, 1980)