Por Joaquim Ferreira dos Santos
Homem que é homem domingo à noite liga a televisão para ver todas as mesas-redondas que estão passando, mas no último fim de semana eu confesso que vi mesmo foi o Fantástico. Tinha um quadro com esse mote. Homem que é homem não come suflê, não faz alongamento, não fala “enquanto gente”, não usa batom para evitar o ressecamento dos lábios. Também não fica elogiando o brucutu ao lado assim sem mais nem menos. Mas, se ninguém sabe mais muito bem o que é esse homem de verdade, eu me aproveito da confusão reinante para dizer que o quadro é das melhores coisas da televisão. Mandaram bem, meninos, meu eu interior vibrou a nível de holístico.
Homem não dá ibope na televisão e o quadro já sai do ar este domingo. Agora até as mesas-redondas de futebol, como as da MTV e da SportTV, lançam um olho de sedução para a audiência feminina. E tome Sex and the city, Superbonita e dezenas de atrações discutindo o que passa por debaixo da balaiage delas. “Homem consome menos” – descobriram os sabichões. “Fale com ela” – descobriu Almodovar, e o cara da grade televisiva acreditou.
A atração do Fantástico era um cavanhaque, uma costeleta de exceção, bem-humorada, no debate sobre o que vai por baixo dos suspensórios deles. Se eu entendi alguma coisa, havia sotaques viris em nordestês e outros doces em neymatogrossês, homem que é homem hoje não tem a mínima noção do que seja isso.
Eu tenho conhecimento, uma colega aqui do B me contou que já há homens telefonando no dia seguinte, uma eterna reclamação delas. Da mesma maneira que outros continuam nem aí, neanderthal total, desinteressados em pegar com elas qualquer informação de como se chega, qual atalho pegar, na tal rodoviária Ponto G.
O território masculino tem mais facções que xiitas e curdos em Bagdá. Além de não discutir a relação, não comer canapé nem salsinha, o homem que é homem do Fantástico não joga futebol no meio de campo – é cabeça de área. Ou beque. Eu daria uma terceira opção: ou fica de um lado para o outro, rebolando como o Robinho, o homem que é o futuro do futebol brasileiro.
Há muitas possibilidades de ser másculo hoje em dia e a melhor de todas talvez seja a de não precisar posar mais de homem, nem mesmo se for com um terninho lindo, preto com falsas listas de giz, que saiu na coleção de inverno do Alexandre Hercovitch. Foi uma revolução – um texto testosterona não devia incluir essas palavras, mas lá vai – passiva.
As mulheres a fizeram e só nos cabe agradecer. Foram à luta, de início para conseguir direito ao voto, e hoje conseguem ser respeitadas até pelo direito de beliscar o bumbum do Gianecchini se cruzarem com ele na rave. O homem, acuado, aceitou ficar menos. Umas pitadas do perdedor Hommer Simpson. Uma nonchalance diversionista, tipo assim, Boy George. O resultado, pasmem!, é bom.
Eu tenho um amigo gaúcho, jornalista, que fala muito grosso, e ele me disse dia desses, epidermicamente sensibilizado, que está adorando fazer pilates. Não disse “a-do-ran-do”, o que tornaria tudo diferente. Ele está adorando o pilates porque se sente mais solto, ou mais disposto, não me lembro bem. Sugeriu até que eu parasse com a musculação. “Embrutece a articulação, tchê”, desdenhou.
Esse novo “homem que é homem” pode até saber a diferença entre celulite e estria, mas, diante da choradeira delas por causa do infortúnio estético, perguntam incrédulos, como cego aos apalpos: “onde? onde?”. Desconhecem-lhes as imperfeições, ajoelham-se às súplicas por mais preliminares.
O homem-pilates não quer mais saber do bafo no cangote do machismo – e se ainda se faz necessário novo exemplo aqui está o ensaio do fotógrafo Jorge Bispo. Ele propôs a um grupo de atores, homens acima de qualquer suspeita, como Fábio Assunção, que se vestissem de… noiva. Todos aceitaram. De graça. Pelo simples prazer de experimentarem o frissom por baixo dos panos ou qualquer outra viagem mais particular a que quisessem submeter suas enzimas.
No quadro do Fantástico, os homens deixam Mariana Ximenes esperando na porta do vestiário e partem para a briga. Não disputam a loura. Instigados a pensar no nome que usariam se virassem travesti – se precisassem por uma necessidade cármica deixar vazar, Lapa afora, a última flor do macho carioca – eles saem no pau porque todos quereriam usar como travecas o mesmo nome de Záfine. Sem dúvida, e o jogador Edilson que voltou ao Flamengo com a sobrancelha depilada concordaria comigo – taí, um lindo nome.