Humor

14 de junho. O refém

Postado por Simão Pessoa

Por Luis Fernando Verissimo

Raí or not Raí, that is the question para os brasileiros nestes dias que antecedem a Copa. Ninguém sabe se o Raí que estreará contra a Rússia, se jogar, será o Raí que conhecíamos no São Paulo ou o Raí irreconhecível dos últimos tempos.

Desconfio que um dia falaremos do desaparecimento momentâneo do futebol do Raí como se fala do desaparecimento da Agatha Christie, que durante um período da sua vida simplesmente sumiu. Ninguém sabia da Agatha. Pensou-se em tudo: sequestro por extraterrenos, fuga com um amante para os mares do sul, tudo. Um dia ela reapareceu com a mesma cara e nenhuma explicação. Nunca falou a respeito e o mistério persiste até hoje: por onde andou Agatha Christie?

O futebol do Raí pode reaparecer a qualquer momento, com a empáfia de uma senhora inglesa. É essa hipótese que anima a comissão técnica. Eles não convocam o Raí de hoje. Se o longo período de preparação e testes da seleção serviu para alguma coisa, foi para mostrar que o Raí não merecia ser escolhido. Convocaram a hipótese.

Ficou subentendido, na convocação do Raí, que seu futebol tinha até esta semana para reaparecer. Pode-se até pensar em Raí como uma espécie de refém. A mensagem para o futebol do Raí é clara, apareça ou ele será sacrificado. O futebol do Raí precisa urgentemente ir lá resgatar o Raí. Ou mandar um similar razoável.

Ele não foi mal no jogo-treino contra El Salvador. Fez um gol, movimentou-se bem, acertou-se com Mazinho, até parecia um jogador de futebol. Mas, convenhamos, contra El Salvador você e eu, depois de uma injeção de glicose, iríamos bem. Não duvido que até fizéssemos algumas boas tabelas pelo meio.

The question é que Raí estará em campo no dia 20. Dizem que o potencial de Raí para ser o grande jogador brasileiro da sua geração era tamanho que ele mesmo se assustou com a perspectiva. Tinha tudo – físico de zagueiro ou centroavante e habilidade de meia, inteligência e pernas para servi-la. Deve ter se contemplado e decidido: eu sou bom demais para ser verdade. Seu futebol o desertou por precaução, Raí ainda não estava preparado para ser Raí.

De qualquer maneira, a guarda da concentração brasileira de Los Gatos já está avisada. Se o futebol de Raí aparecer é para deixar entrar correndo. Mesmo sem crachá.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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