Por Luis Fernando Verissimo
Não sei se há um psicólogo na atual comissão técnica. Parece que os psicólogos foram vetados da seleção brasileira desde que dois deles examinaram o Garrincha, em 58, e determinaram que Garrincha não podia jogar futebol. Era um vegetal. Como se não bastasse as pernas tortas, tinha o raciocínio de um pepino.
Outro psicólogo foi contratado para confirmar o drástico diagnóstico. O psicólogo trancou-se com Garrincha e alguns apetrechos numa sala. Faria com ele o teste de inteligência mais simples que existe: encaixar um cilindro num buraco redondo e um cubo num buraco quadrado.
O psicólogo saiu da sala com os olhos arregalados. Teve quer ser reanimado com abanos e copos d’água. O que acontecera?
– Ele tentou botar o cilindro no buraco quadrado e o cubo no buraco redondo – contou o psicólogo, ainda respirando mal. Depois completou: – E conseguiu!
O psicólogo desistiu da profissão e hoje é pai-de-santo. Já o Garrincha foi bicampeão do mundo e teve uma longa carreira botando cilindros em buracos quadrados, cubos em buracos redondos e bolas na rede. E só não foi inteligente gerando sua própria vida, porque em campo era um crânio.
Não sei se os psicólogos foram reabilitados na seleção e se foi ideia de um deles botar o Romário e o Dunga no mesmo quarto. De qualquer jeito foi uma ideia sábia. Há quem tema uma reversão da expectativa e que, da experiência, em vez de um Romário sério, duro e responsável, surja – meu Deus! – um Dunga carioca, louco para fugir da concentração atrás de um futivôlei esperto. O ideal, claro, é que a convivência dê empate e Romário fique um pouco mais Dunga, Dunga um pouco mais Romário e todos nós um pouco mais confiantes.
Mesmo que ninguém influencie ninguém, Dunga e Romário no mesmo quarto pode ter uma utilidade prática. Digamos que haja um terremoto. Eu seu, eu sei, ninguém quer pensar nisso. Ninguém que está lá, ou se prepara para ir, gosta da ideia de desaparecer numa fenda ou ficar embaixo de um lustre. Mas a possibilidade do terremoto existe e precisa ser encarada, e deve ter entrado nos planos de quem botou Dunga e Romário no mesmo quarto.
Há um terremoto. Pânico generalizado. Os jogadores traumatizados correm para o jardim do hotel no meio da noite. Todos menos o Romário, nosso jogador decisivo, a julgar pelos prognósticos. Romário foi o único que na hora do terremoto virou para o outro lado e continuou dormindo.
No dia seguinte, Romário daria a explicação.
– Pensei que fosse o Dunga treinando dividida com o armário!