Por Luis Fernando Verissimo
Há muitas maneiras de enfrentar uma manhã como a de hoje. De administrar a expectativa, domar os nervos e preparar o espírito. Ainda mais que, segundo dizem os que viram eles treinando, os russos não são sopa. No caso, borsch.
Você pode rezar a Deus e apelar para o seu patriotismo, ou para o que sobra do seu ressentimento com anos de materialismo ateu na Rússia. Você pode dedicar-se a seus afazeres como se fosse um dia qualquer e até perguntar “Jogo”? Que jogo?” quando alguém lhe der bom-dia. Ou você pode recorrer à filosofia para prevenir-se contra um possível insucesso brasileiro.
Eu, por exemplo, tenho me consolado com o seguinte pensamento: se o Brasil não for bem na Copa do Mundo, não faz mal, pois o mundo pode acabar antes da Copa. A final da Copa está marcada para o dia 17 de julho. No dia 16 de julho um cometa se chocará contra a superfície de Júpiter com a força de dez mil Dungas. Ninguém sabe quais serão as consequências do choque.
Pode ser só um clarão no céu, pode ser o fim de sistema solar como nós o conhecemos e amamos. Há quem diga que os astrônomos sabem exatamente o que vai acontecer com a Terra, não estão espalhados para não atrapalhar a Copa mas já providenciaram asilo para suas famílias.
Para Parreira, a perspectiva do mundo acabar no dia 16 de julho traz sensações ambíguas. Se o Brasil estiver classificado para a final, um Parreira amargurado terá todas as razões para pensar que desperdiçou paciência e boa educação com a imprensa e engoliu desaforos em vão. Mas se o Brasil estiver desclassificado, Parreira saberá que não cairá em desgraça por muito tempo. Tudo tem seu lado bom.
O importante é colocar a participação do Brasil na Copa numa correta perspectiva universal. Uma derrota do Brasil não é o fim do mundo, gente. O fim do mundo é o fim do mundo. Consolemo-nos preventivamente também com os italianos que perderam para os irlandeses.
Se não conseguirmos vencer a Rússia, os brasileiros na Califórnia encontrarão poucos russos para gozar da sua cara. Já em Nova York, cada segunda cara que um italiano vê na rua é a de um irlandês gozador. Para a Itália, uma possível explosão de Júpiter está começando a parecer o mal menor.