Humor

22 de junho. O que foi

Postado por Simão Pessoa

Por Luis Fernando Verissimo

Já deu tempo para descansar, passar creme no vermelhão da cara e pensar no jogo que vimos segunda-feira. Que foi mesmo que nós vimos? Para começar, todos devemos desculpas a Ricardo Gomes. Ninguém, claro, queria vê-lo machucado, mas o consenso era que a fatalidade nos dera uma mão, tirando-o do time e forçando a escalação do Márcio Santos.

Anteontem, a saudade de Ricardo Gomes começou cedo e só amainou no segundo tempo, quando Márcio Santos e seus nervos chegaram a um entendimento precário. A fatalidade também tirou Ricardo Rocha do time, não se sabe por quanto tempo, e escalou Aldair. Começa a preocupar a influência da fatalidade no trabalho do Parreira. A fatalidade tomou o lugar do Zagalo!

Mauro Silva já foi suficientemente louvado, mas nunca é demais lembrar que o melhor jogador da tarde chegou a ser cogitado para ficar no banco. Destas pequenas ironias é feita a literatura da Copa. Mauro Silva e Dunga não formaram uma unidade móvel de demolição, como de costume. Só estiveram perto um do outro na hora do hino.

Mauro Silva jogou atrás, de onde saía com a imponência e a lucidez de um touro com PHD, enquanto Dunga ficou, algo burocraticamente, na frente. Os russos não deram muita atenção a Dunga e ele não soube aproveitar o descaso. Muitas vezes teve campo para avançar e não avançou. Dunga não entende a vida sem dificuldades.

Bebeto e Romário enterrados sob camadas de russos. Romário fez três ou quatro jogadas, se tanto. Duas delas decidiram o jogo. Foi ao mesmo tempo o mais sumido e o mais importante jogador da partida. E a grande notícia do dia foi a que metade do futebol do Raí voltou com o recado que a outra metade já vem.

Meu otimismo com o time não se abalou nem com o que acabo de ver na TV, a vitória da Argentina sobre a Grécia por 4 x 0 na estréia mais impressionante de todas até agora. Outra revelação preocupante é que Maradona pode dizer como Bernard Shaw depois de ler seu próprio necrológio enganado no “Times”, que as notícias da sua morte como jogador de futebol eram um pouco exageradas.

Finalmente, uma defesa do juiz Lim Kee Chong, de Brasil e Rússia. Ele não foi mal-intencionado. É que aprendeu arbitragem por correspondência e o correio nas Ilhas Maurício falha muito.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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