Por Luis Fernando Verissimo
É bom ser americano. Você ganha em dólar, não tem nenhuma dificuldade para dizer o “th” em inglês e, o melhor de tudo, nunca precisa crescer. Ao contrário do que acontece com outros povos, não existe qualquer pressão para o americano se tornar adulto.
Você e eu estamos comprometidos a seguir as etapas da vida, da infância à adolescência e à velhice. Mesmo os que, emocionalmente, passam a vida com cinco anos incompletos, são obrigados a uma pantomima de amadurecimento progressivo.
Os americanos só se tornam crianças mais espessas. Tudo o que há de melhor e de pior neste país se deve a esta permanente infantilidade, a este bendito pouco caso com parecer ou não parecer bobo.
A relação do americano com o esporte é infantil. Não é necessariamente acrítica, nem exclui a hostilidade e a controvérsia, mas é uma relação ingênua. Por isso o esporte aqui é um grande negócio e no Brasil, com todas as paixões que mobiliza, não é. Fica mais fácil vender para um público predisposto a gostar e aberto a todos os truques promocionais, a todas as bobagens.
Alguém vendo um jogo de futebol americano profissional poderia pensar o oposto, que os americanos levam o esporte tão a sério que transformaram um jogo numa metáfora da guerra, com gladiadores em armaduras sendo guiados por estrategistas high-tech numa grave luta territorial. Mas é o contrário, eles tanto fizeram que transformaram a guerra numa metáfora do futebol.
A última operação de guerra americana, o desembarque na Somália, foi feita sob os refletores e as câmeras da imprensa, que tinha desembarcado antes, como num jogo noturno. A guerra do Golfo, para o público americano, foi um videogame, um futebol eletrônico sem baixas e sem culpa. Um sucesso com esta garotada.
Assim como o “dream team” do basquete representou um tipo de fantasia infantil, o da invencibilidade absoluta, o “team USA” do “soccer” representou outro, o da travessura bem-sucedida.
O time americano foi vendido como um grupo de meninos alegres que estavam no campeonato sem qualquer compromisso mas podiam incomodar os grandes com sua irreverência e seu espírito. Se conseguissem chegar às finais, não seria apenas uma conquista esportiva. Seria um filme pronto para o próximo verão. Daqueles de encher as sessões da tarde.
Ontem, durante 70 minutos, a vida imitou Hollywood. Tony Meola já se via no papel de Tony Meola. Aos 28 do segundo tempo, acabou a fantasia. As crianças foram para casa. Ficou o Brasil de Parreira e o seu senso trágico da existência.