Humor

Manchetes pra Jair se acostumando

Postado por Simão Pessoa

Por Antônio Prata

Desde 1º de janeiro de 2019, ler jornal é um curso de realismo fantástico. Cada notícia é uma página na apostila sobre o universo paralelo do bolsonarismo. O ministro do Meio Ambiente trabalha pra acabar com o ambiente? É isso? É isso. A ministra dos Direitos Humanos trabalha pelo preconceito e contra as minorias? Sim, sim. O ministro das Relações Exteriores se dedica a cortar laços com outras nações? Beleza. O ministro da Economia acha uma excrescência econômica empregadas terem condições de ir à Disney? Ah, tá, só pra conferir, mesmo.

Apenas nesta semana li duas manchetes que ficam entre George Orwell e Ionesco. O Iphan praticamente acabou, pois segundo Bolsonaro, o patrimônio histórico só serve pra atrapalhar obra e preservar “cocô de índio”. Passamos de 4.000 mortos por dia, a imprensa e a comunidade científica mundial clamando para que o Brasil tome uma atitude e o presidente foi pra Chapecó fazer discurso sem máscara contra isolamento e pró kit inócuo.

Bolsonaro acredita que todo o conhecimento acumulado desde o Renascimento, todos os ministros da Saúde de todos os países mais todos os presidentes estão errados. O único iluminado, o Buda barriga verde, é o prefeito de Chapecó. Brilhante.

Para não termos que nos chocar diariamente com os absurdos, sugiro aqui uma lista de possíveis manchetes até 2022, quando Jair e seus capangas tomarão uma sova tão grande nas urnas que nem chegarão ao segundo turno.

“Presidente proíbe a reciclagem em todo o território nacional: chega de gastar dinheiro com lixo!”.

“Milícias cariocas caçam animais em extinção: se os animais em extinção forem extintos, acaba o mimimi da preservação e a gente já pode transformar essas florestas inúteis em estacionamento, templo e bufê infantil.”

“Bolsonaro assina MP liberando o uso de armas por crianças:se o moleque não sabe usar uma arma e se acidenta, azar o dele, todas as crianças não podem pagar pelo erro de uma.”

“Bolsonaro sai em defesa do Dr. Jairinho: tem que ver também que que o menino aprontou”.

“Bolsonaro condena Flordelis: homem matar a esposa é o correto pra defender a família. Mulher matar o homem é coisa de feminista.”

“Bolsonaro aprova lei obrigando a pintura de todos os extintores de incêndio e carros de bombeiro de verde e amarelo.”

“Bolsonaro proíbe a venda de preservativos: camisinha induz à promiscuidade.”

“Bolsonaro proíbe canções de ninar nas escolas públicas: música é ambiente de droga e pederastia.”

“Bolsonaro substitui estátuas de Drummond e Tom Jobim na orla do Rio por estátuas do MC Reaça e Olavo de Carvalho. As obras foram feitas por Romero Brito.”

“Bolsonaro proíbe cabelos afro: é pelo próprio bem dos negros, que não vão mais sofrer bullying.”

“Bolsonaro derruba a Lei Afonso Arinos e promulga a lei Filipe Martins, para combater ‘a praga do racismo reverso’.”

“Bolsonaro proíbe livros, filmes e peças de ficção: vamo acabá com essa indústria de fake news, tá ok?!”.

“Bolsonaro proíbe corrimão, guardanapo e fio dental: viadagem no meu país, não!”.

“Bolsonaro proíbe talheres: tem mão pra que?”.

“Bolsonaro extingue os plurais, a conjugação de verbos e a pontuação: isso só existia pra dar dinheiro pra vagabundo ensinar português e ideologia de gênero.”

“Bolsonaro doa o Sergipe pro Donald Trump.”

“Bolsonaro bota tachinhas nas cadeiras dos ministros do STF.”

“Bolsonaro mata um oponente político: ele que atacou a bala do meu revólver.”

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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