Por Xico Sá
Dos 12 trabalhos de Hércules aos quais somos submetidos rotineiramente na moderna sociedade contemporânea a massagem talvez desponte como um dos mais suados. Muitas vezes, sentimo-nos empunhando uma espécie de britadeira do amor, “lambreta de baiano”, como reza o preconceito do paulistano médio-médio.
Óbvio que fazemos – o que não se faz por uma gazela que brilha os zolhinhos diante das nossas imperfeições?!
Muitas vezes, todavia, o sacrifício é pior do que o de Tarkovski. A nega, estressada ou dengosa, lá estirada, quebra a cabeça levemente para trás e soletra: “Bem, faz uma…”
No que emendamos: “Sei, uma massagem.”
Executamos tantas e tantas com sabedoria zen. Elas se sentem no Tibet. Até o cheirinho de bosta de vaca sagrada sobe no ar.
Noutras ocasiões sentimo-nos aqueles sábios que apertam gente nos descampados de Goa. Mestres. Até assobiamos um trance rápido… fifififi sampleado…
Mas tem horas, meus amigos…
Uma morena que surgiu de uma das minhas costelas magras e desiguais ainda tem o bom senso de virar-se para a TV nos dias de jogos do Santos, posição que permite a militância amorosa e futebolística ao mesmo tempo. Aperto a danada e acompanho as penetrações do ataque na Vila mais famosa do mundo.
Esse gesto nobre, no entanto, carece de muito calendário para que seja possível. Antes disso, querem apertos quase científicos, cirúrgicos como um míssil das sacanagens religiosas do Oriente Médio.
Dá vontade mesmo é de chamar um japonês amigo, ou contratar um indiano para deixar no armário. Ela insinua “uma massagem, bem!”, e soltamos o homem do ramo em cima da nega. Sob a nossa supervisão, naturalmente.
Ela fecha os olhos, o especialista pula do armário, faz o serviço, vai embora no ritmo de trem-bala, e ainda ganhamos os dividendos, elogios, adjetivos como mangueiras carregadas, devoção de uma mulher agradecida a um homem de boa vontade.
Aí é só esperar a troca possível. Algo bem simbólico, como uma épica lambida no saco, por exemplo.