Por Antonio Rocha Neto
– Papai, o que é Páscoa?
– Ora, Páscoa é… Bem…é uma festa religiosa!
– Igual ao Natal?
– É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
– Ressurreição?
– É, ressurreição.
– Martaaaaa, vem cá !
– Sim?
– Explica para esse garoto o que é ressurreição para eu poder ler o meu jornal.
– Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
– Mais ou menos…
– Mamãe, Jesus era um coelho?
– O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho!
– Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado!
– Jorgeeeeeee, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã!… Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus que me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
– Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
– É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no Catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
– O Espírito Santo também é Deus?
– É sim.
– E Minas Gerais?
– Sacrilégio!!!
– É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?
– Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!
– Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
– Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
– Coelho bota ovo?
– Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
– Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
– Era… Era melhor, sim… Ou então urubu.
– Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?
– Que dia ele morreu?
– Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
– Que dia e que mês?
– (???)
– Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
– Um dia depois!
– Não, três dias depois.
– Então morreu na Quarta-feira.
– Não, morreu na Sexta-feira Santa… Ou terá sido na Quarta-feira de cinzas?
– Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
– Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
– É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
– O Judas traiu Jesus no Sábado?
– Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!!
– Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
– Uiiii…
– Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
– Cristo. Jesus Cristo.
– Só?
– Que eu saiba sim, por quê?
– Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
– Ai, coitada!
– Coitada de quem?
– Da sua professora de catecismo!
Agora que você já releu, segue uma informação que talvez você não saiba. A mensagem a seguir, que recebi há algum tempo, é semelhante a outras do mesmo teor, comentadas em inúmeros espaços que já reproduziram o mesmo texto:
“Prezado Senhor
O motivo deste meu contato é o de apresentar-me como autor da crônica “Dúvidas Pascoais”.
Sou mineiro de Coronel Fabriciano (MG), mas moro, desde os 12 anos em Vitória (ES). Esta crônica, eu a escrevi já há um bom tempo, deve ter sido em 1986 ou 1987, e já a publiquei em um livro de contos editado pela LITTERIS EDITORA, do Rio de Janeiro, em 1994.
Sou graduado em economia e em filosofia, e mestre em filosofia. Trabalho como economista na Universidade Federal do Espírito Santo e dou aulas de filosofia em duas faculdades particulares da Grande Vitória.
Esclareço que a crônica “Dúvidas Pascoais” está sendo, em muitas páginas da internet em que aparece, atribuída a um autor desconhecido, ou mesmo ao Luiz Fernando Veríssimo – o que, no final das contas, me enche de orgulho, pois ser confundido com o Veríssimo não é para qualquer um.
Tenho outras crônicas na mesma linha de humor. Caso queiram conhecer, é só entrar em contato.
Um abraço,
Antonio Rocha Neto
rocha(a)prppg.ufes.br”