Por José Rocha
O jornalista e escritor Cláudio Amazonas faleceu nesta quarta-feira, 20 de março de 2025, aos 78 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Irmão do radialista e ex-deputado estadual Erasmo Amazonas, ele deixa um legado marcante na literatura e no jornalismo amazonense.
Cláudio Amazonas nasceu em Manaus, pertencente a uma família tradicional do bairro de Educandos, carregando os sobrenomes nobres de Rezende, oriundo dos Açores (Portugal) e de Amazonas, das índias brasileiras icamiabas, toponímia também de um dos maiores rios do mundo e do maior Estado do Brasil.
Entre outras coisas, ele era um escritor talentoso que teve por duas vezes suas obras contempladas no Concurso “Prêmio Literários da Cidade de Manaus”, promovido pelo Conselho Municipal de Cultura (Concultura), em nível nacional, na categoria de jornalismo literário.
Claudio foi premiado, em 2006, com “Gonçalo, o Rei da Noite – As peripécias de um certo marreteiro”, onde descreve a vida do pernambucano Gonçalo Batista dos Santos, o criador da União Atlética de Constantinópolis, desde quando este fugiu de casa aos 10 anos até sua chegada em Manaus em 1945, contextualizando essa trajetória aventureira com os fatos políticos e sociais acontecido nesse período em todo o Brasil.
Seu outro livro premiado foi “Sob o Signo dos Golpes”, de 2016, em que registra significativos momentos da vida contemporânea da América do Sul e sua instabilidade política. É nesse ambiente conturbado que ocorrem sucessivos golpes e contragolpes envolvendo os países do continente, a vida do peruano Ramiro, natural de Callao, deixando para trás sua terra natal decepcionado com a sua militância na Aliança Popular Revolucionária Americana (PARA) e um fracassado drama de amor, com ênfase na crise que se abateu sobre o Brasil com a surpreendente renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961 e a ascensão e queda de João Goulart em 1964.

Simão Pessoa e Cláudio Amazonas num papo sobre literatura
Cláudio Amazonas cursou Biblioteconomia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade do Amazonas, bacharelou-se em Teologia pela FATEBOV e fez pós-graduação em Docência do Ensino Superior (inconcluso)
Foi revisor na Secretaria de Imprensa e Divulgação do Estado do Amazonas. Militou no jornalismo como chargista, repórter, copidesque e editor nos jornais A Crítica, Jornal do Commercio, A Notícia, O Jornal e Diário da Tarde e Diário do Amazonas. Foi diagramador e editor de arte do Jornal Cultura, editado pela Fundação Cultural do Amazonas, sob a presidência do acadêmico João Mendonça de Souza.
Entre outros cargos que exerceu, Cláudio Amazonas foi secretário do Serviço de Loteria do Estado, assistente administrativo da Companhia de Eletricidade de Manaus (CEM), chefe do setor de Comunicações, secretário-geral e diretor-administrativo da Celetramazon, chefe de gabinete da Secretaria de Saneamento, Habitação e Energia (SESAB), diretor da Companhia de Navegação Interior do Amazonas (CONAVI) e da Empresa Amazonense de Extensão Rural (EMATER). Foi ainda suplente de deputado estadual e diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas.
Em de 6 de dezembro de 2007 recebeu, no Plenário Adriano Jorge, da Câmara Municipal de Manaus, das mãos do poeta Aníbal Beça, presidente do Conselho Municipal de Cultura (Concultura), o Mérito Cultural, “às personalidades e empresas que facilitam e apóiam a produção cultural na Cidade de Manaus.”
Em 26 de outubro de 2009 tomou posse na Academia de Letras e Artes de Paranapuã (Ilha do Governador/RJ), na Cadeira no. 18 (patronímica Umberto Calderaro Filho), data em que, no Plenário Teotônio Vilela, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, recebeu Moção de Congratulações e Aplausos, homenagem proposta pelo vereador Luis Carlos Ramos. Em 28 de maio de 2013 recebeu da mesma academia, o Diploma seguido da Medalha de Mérito Cultural Austregésilo de Athayde.
Extremamente boêmio desde a juventude, Cláudio foi íntimo de renomados artistas nacionais e internacionais, grande amigo de Getúlio Dionísio de Castro, primeira voz do Trio Tropical, que fez sucesso com o disco sob o título de Adelante, a partir de 1960, e dos integrantes do Trio Cristal, que costumavam se hospedar em sua casa quando vinha a Manaus.
Cláudio cantava razoavelmente bem e participou como terceira voz da criação, em 1958, de um trio que futuramente viria se destacar com a inclusão de Carlos Enrique Gengifo Grandez, o “Kiko”, um dos maiores guitarristas da América do Sul, acompanhante oficial do cantor internacional Pedrito, conhecido nos países de língua espanhola como El Ruiseñor del Amor: o Trio Meridional, que acompanhou Pedrito na noite 23 de março de 1985 na TV Educativa com grande sucesso.
Nos anos 70, o conjunto passaria a se apresentar em várias cidades brasileiras e era composto por Klinger Ferreira Dantas (primeira voz), Roosevelt Rego Lopez (segunda voz e segunda guitarra) e “Kiko” como terceira voz e requintado solista. O grupo estava à altura de um Trio Los Panchos, sem tirar nem por.

O jornalista e escritor Cláudio Amazonas
Na sua multifacetada vida e aguçada sensibilidade de repórter, Cláudio Amazonas recolheu o material necessário para as obras que viriam transforma-lo em grande jornalista e escritor. Ensinava-nos, por exemplo, que o nome do bairro de Educandos deriva da criação do Estabelecimento dos Educandos Artífices, criado no dia 21 de agosto de 1856, mas só através do Decreto nº 27, de 22 de julho de 1907 foi denominado bairro de Constantinópolis.
Foi sob a batuta de Cláudio, com a participação de Tereza Brandão, Wagner Ferreira e do deputado Nonato Lopes, que, em 1993, comemorou-se pela primeira vez e em grande estilo o aniversário do famoso e tradicional bairro de Manaus, com a abertura feita pelo maestro Pedrinho Sampaio executando a 40ª. Sinfonia de Mozart, o Trio Cristal e vários conjuntos amazonenses. A data escolhida foi 21 de agosto.
E o conjunto da obra seria concretizado com a publicação de “Memórias do Alto da Bela Vista – Roteiro Sentimental de Educandos”, lançado no dia 5 de setembro de 1996, nos 100 anos do Teatro Amazonas, prestigiado com a presença da intelectualidade, do conjunto de Câmara e da cantora Fafá de Belém.
Em 2007, ele ganharia o Prêmio Mario Ypiranga Monteiro com o livro “Constantinópolis – Origens e Tradições”, um quase resumo das “Memórias”.