Por Mauro Ferreira
O título do show apresentado por Sebastião Tapajós nos últimos cincos anos, “Por entre as árvores”, era referência à paisagem bucólica que envolvia o compositor e violonista paraense na casa em que vivia na cidade de Santarém (PA).
O artista paraense se considerava natural de Santarém (PA), onde foi registrado, mas a rigor, por capricho do destino, Sebastião Pena Marcião (16 de abril de 1942 – 2 de outubro de 2021) veio ao mundo no município vizinho de Alenquer, nascido em barco que navegava no rio Surubiú em direção a Santarém (PA).
Foi para celebrar cidade em que se criou que Sebastião adotou o sobrenome artístico de Tapajós, em alusão ao rio que banha Santarém (PA). E foi em hospital de Santarém (PA) que Sebastião Tapajós morreu na noite de ontem, 2 de outubro, aos 79 anos, vítima de infarto agudo do miocárdio.
Ao sair de cena, Tapajós deixa legado banhado por águas e terras amazônicas, mas também por sons do nordeste do Brasil, da cidade do Rio de Janeiro (RJ) e da América Latina. Foi com o virtuoso toque amazônico do violão que o músico abarcou o mundo a partir dos anos 1960, através de shows feitos em Nova York (EUA) e de álbuns gravados para países como Argentina (nada menos do que oito discos editados nos anos 1970 e 1980) e Alemanha (onde foi popstar do violão).
Contudo, Sebastião Tapajós foi para o mundo sem jamais sair do Pará na alma musical tão plural quanto nortista. A própria discografia do violonista e compositor – iniciada há 58 anos com a edição do álbum “Apresentando Sebastião Tapajós e seu Conjunto” (1963) – aludiu nos títulos de vários álbuns à origem do artista.
Basta citar “Xingu” (1979), “Amazônia brasileira” (1997) – álbum gravado com o conterrâneo paraense Nilson Chaves – e “Da minha terra” (1998), disco feito com Jane Duboc, cantora nascida em Belém (PA). Sem falar nos álbuns “Solos da Amazônia” (2000), “Valsas e choros do Pará” (2002) e “Suíte das Amazonas” (2011), este gravado com Ney Conceição e Trio Manari.
Violonista autodidata, influenciado por mestres antecessores no toque do instrumento, como o paulista Dilermando Reis (1916 – 1977) e o paulistano Garoto (1915 – 1955), Tapajós começou a estudar formalmente violão aos oito anos. Aos dez, já iniciou a trajetória profissional com violonista do conjunto de baile Os Mocorongos.
Em Belém (PA), para onde se mudou em 1958, Tapajós se aprofundou nos estudos formais de música enquanto tocava nos bailes da vida.
Embora o músico tenha mostrado excelente domínio da linguagem jazzística, sobretudo nos muitos discos gravados com o pianista Gilson Peranzzetta, o violão de Sebastião Tapajós expunha brasilidade em sintonia com o repertório criado pelo compositor e pautado por gêneros nacionais como samba, choro, carimbó e guitarrada.
Violonista excepcional, compositor e arranjador, Tapajós deixa obra, discografia –nada menos do que 61 álbuns lançados entre 1963 e 2011 – e legado ainda não devidamente dimensionados no Brasil.
Sebastião Tapajós veio ao mundo em um barco e foi a bordo de violão de toque amazônico que abarcou o mundo, propagando a música do Brasil, em especial a do Pará.