Boemia

Afinal, o que é um Botequim?

Postado por Simão Pessoa

Por Jaguar

A estagiária de segundo caderno me ligou querendo saber o quer, na minha opinião, era um botequim.

– Ora – comecei a responder, e embatuquei. Foi aí que me dei conta: nunca tinha refletido sobre essa questão transcendental. Porra, a gente simplesmente vai a um boteco quando está a fim de tomar uma bebidinha, fazer hora, sei lá. Foi o que eu disse para a moça.

Mas, como toda estagiária de segundo caderno, ela foi implacável:

– Seguinte: tenho que fechar a matéria ainda hoje. Vai pensando no assunto, daqui a pouco ligo de novo.ico,

Então vamos lá, antes que ela cumpra a ameaça. Pra mim, todo lugar onde se bebe é um botequim, seja o Bar Brasil, na Lapa, ou o maior boteco do Rio (pelo menos em tamanho), o Bar do Tom, anexo à Churrascaria Plataforma, no Leblon, ou o minúsculo Bunda de Fora, no Jardim Botânico.

Um botequim deve ser, de preferência, razoavelmente limpo. Mas não a ponto da gente pensar que está bebendo numa enfermaria. Ninguém morre de infecção contraída em bar. E quantos já morreram de infecção hospitalar?

Nunca me esqueço de uma vez que levei o Nássara para conhecer a filial, num shopping da Barra, do Bar Luiz. Além de genial caricaturista e compositor, ele foi também grande boêmio.

A decoração lembrava em tudo o mais antigo bar do Rio. Mas tinha alguma coisa errada.

– Limpo demais – sentenciou – mas nada que alguns bons bebuns não resolvam.

Outro ponto a ser considerado: bebericar em pé ou sentado? Estou cada vez mais convencido que beber em pé, junto ao balcão, tem várias vantagens, a saber: primeiro, você é servido mais depressa. Depois, fica mais fácil driblar os chatos, se você está numa mesa é presa fácil, eles vão puxando uma cadeira e sentando ao seu lado. E depois você pode escolher o tira-gosto de melhor aparência e fiscalizar se o cara do bar está tirando direito o chope ou fazendo a batida como você pediu, só com meia colherinha de açúcar.

E, é claro, seu santo tem que cruzar com o do garçom. É como um casamento, conheço boêmios que passam mais tempo com o garçom do que com a mulher.

O Bar Bico, em Copacabana, é um bom exemplo desse tipo de botequim.

Tem tudo que um boteco que se preze deve ter: de ovo cozido a sanduíche de churrasquinho, de caracu com dois ovos, o Viagra dos pobres, ao bate-entope mais barato, pão com ovo. O chope, da Brahma, é bem tirado, na manteiga (com muita pressão), como o cara do balcão comandou. E tem uma vantagem: você, do balcão, controla o cara tirando o seu chope, para ter a certeza de que não é de balde, na minha opinião, crime inafiançável.

Agora a moça pode me ligar: vou matar a pau.

Bar Bico. Av. Nossa Senhora de Copacabana, 1.253B, esquina de Francisco Sá. De segunda a sábado, das 8 da manhã à meia-noite.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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