Boemia

Canavial da pesada na Paulicéia Desvairada

Simão Pessoa, Mouzar Benedito, Carlos Lacerda e Simas Pessoa, o “Careca Selvagem”
Postado por Simão Pessoa

Por Simão Pessoa

No dia 24 de fevereiro de 2011, meu amigo, o escritor e contador de causos Mouzar Benedito, publicou na Revista Fórum uma matéria, intitulada “Bar do Armando: minha indicação em Manaus”, que está disponível na web e que passo a transcrever abaixo:

No próximo sábado, dia 26, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA) desfila pelas ruas do centro da cidade pela 25ª vez. Será a “Bodas de Prata” da mais escrachada banda carnavalesca de Manaus.

Para festejar o evento, está disponível na web o livro “Amor de BICA”, feito a oito mãos por Simão Pessoa, Orlando Farias, Mário Adolfo e Marco Gomes, que estava esgotado há cinco anos. Um detalhe é que a tal banda, BICA, sai do Bar do Armando, que fica no centro da cidade, na praça em frente ao Teatro Amazonas.

Estive no Bar do Armando há uns cinco anos, levado pelo Simão Pessoa e pelo Marco Gomes, que me convidaram para ir a Manaus e Parintins, com cobertura do Sindicato dos Escritores do Amazonas. Fui maravilhosamente recebido por eles, pelo poeta Anibal Beça (que morreu há não muito tempo) e outros amigos.

O centro de Manaus mudou muito, já não tem mais aquela boa infraestrutura de “antigamente”. Sobrou o glorioso Bar do Armando, que a partir de umas 6h da tarde nos dias de semana começa a receber o melhor pessoal da cidade (os chatos vão para bem longe, os shoppings, os bares burgueses da Ponta Negra etc.).

Com uns 5 mil discos tipo bolacha, levado pelos fregueses, o bar vai ocupando a rua assim que os carros estacionados durante o dia saem. A cada um que sai, eles colocam umas mesas no lugar, e elas vão sendo ocupadas por artistas, jornalistas, escritores, poetas, advogados, travestis, prostitutas etc.

Cerveja bem gelada, queijo do reino e salaminho saem aos montes. Vale a pena. E quem quiser ouvir uma música especial, basta entrar no fundo do bar, escolher o disco e colocar. Quem perder a saída da BICA pode ir lá uma noite qualquer que não vai se arrepender, desde que não seja um daqueles turistas típicos.

Em dezembro de 2021, este escriba, o sindicalista Carlos Lacerda e o livreiro Simas Pessoa, aproveitando uma estada de dois dias em Sampa, resolvemos tomar umas biritas com o escritor e contador de causos Mouzar Benedito.

Ele mesmo escolheu o botequim para o encontro, situado a 50 metros de seu apartamento, em Vila Madalena.

Quando chegamos ao boteco, por volta das 16h de uma terça-feira, o Mouzar já estava nos esperando, degustando solitariamente uma cerveja Antarctica estupidamente gelada.

Tomou um susto com a primeira coisa que pedimos do garçom: uma grade vazia para colocar os cascos das cervejas a serem detonados.

Na sequência, pedimos todos os petiscos disponíveis no bar: salame italiano, bolinho de bacalhau, coxinha de frango, sanduiche bauru, pastel de carne, etc.

Começamos a detonar as cervejas em velocidade de cruzeiro: dois cascos vazios a cada 10 minutos.

Mouzar começou a ficar assustado com a presepada.

– Por que essa pressa toda para beber?… – indagou, preocupado.

– Pra cerveja não esquentar… – explicou candidamente o Careca Selvagem, enquanto pedia mais duas “brejas” pro garçom.

E haja conversa, que o Mouzar é o melhor contador de causos que conheço.

Duas horas depois, quando colocamos o prego no caixão da primeira grade, Mouzar foi ao banheiro e se demorou mais que o habitual.

Achamos estranho. Apesar de 75 anos, Mouzar tem uma vitalidade de 65 anos e, que eu saiba, nunca teve problemas com próstata.

Ele voltou, recomeçamos a beber, de repente o celular dele tocou. Era uma mensagem da esposa pedindo para ele ir urgente para casa porque ela estava passando mal.

Meio constrangido, Mouzar se despediu da gente e foi embora.

Carlos Lacerda foi o primeiro a matar a charada.

– Sabem por que ele demorou tanto no banheiro? Estava ligando pra mulher, dando instruções para ela tirá-lo do bar porque não estava mais aguentando o nosso canavial…

Era uma explicação lógica. Morremos de rir (bêbado ri de tudo) e ficamos mais meia hora no boteco, se divertindo com a suposta história.

Aí, chamamos o garçom, pagamos as 30 cervejas consumidas, os petiscos, pedimos um táxi e fomos continuar a bebedeira no hotel.

No dia seguinte, voltamos pra Manaus.

Moral da história: quem não pode com o pote não pega na rodilha. Simples assim.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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