Por Jaguar
Quase todas as quartas-feiras dou um jeito de não perder o angu do Gomes, que passou seu segredo para dona Ana Campos, dona um restaurante, o Galeto 183, que fica na rua de Santana – em frente à redação d’ O Globo – com bagaceira antes, cerveja durante e Underberg depois. Quando soube disso, um amigo meu, que é médico, vaticinou que eu só escaparia da trombose, do enfarte ou da congestão – ou todos ao mesmo tempo – se praticasse algum exercício, mínimo que fosse.
Não que eu tenha medo de morrer, tenho medo é de não ter angu do Gomes, bagaceiras e cerveja no lugar para onde vou depois de bater as botas.
De modo que, para começar, comprei um par de tênis para caminhar no calçadão da praia, condição sine qua non, segundo ele, de sobreviver ao angu.
Não tão devagar que pareça rastejar nem tão rápido que me confundam com os atletas que trotam com férrea determinação, lá vou eu até o final do Leblon. Dou meia-volta, rumo ao Quiosque Quase Nove, em Ipanema.
Observo os companheiros de jornada: para cada guria sarada e cada garotão malhado, que passam velozes, como se deslizassem em outra dimensão, há uma deprimente profusão de bundas gelatinosas, papadas desabadas, dobras e gorduras tremelicantes, teias de rugas, calvas perebentas, antebraços, com babados, culotes flácidos, cotovelos encarquilhados , panças balofas, estrias, manchas, varizes, pelancas, olheiras, peitos muxibentos que me fazem dar graça a Deus pelo fato de o topless ainda não ser obrigatório. E quase todos, eu inclusive, com inenarráveis tênis que fazem as canelas parecerem ainda mais ridiculamente finas.
Completo, aos flatos, uns seis quilômetros e desabo na cadeira do quiosque, antes de recuperar o fôlego para pedir uma água de coco, o solícito Ítalo me traz o de sempre, caipirinha, chope e linguiça de tira-gosto. Aceito, pra não fazer desfeita. Como ninguém é de ferro, volto de táxi pra casa.
Colesterol, aqui me tens de regresso.
Galeto 183. Rua de Santana, 183. Centro. Tel. 252-3914. Das 10 da manhã às 10 da noite.