Boemia

Um bar do Rio…

Postado por Simão Pessoa

Por Jaguar

Há uns 20 anos eu editava Notícias do Balneário – imaginem qual – suplemento de humor encartado na finada Status, com a trinca Aldir Blanc, Fausto Wolf e Nataniel Jebão, seu alter ego – ou vice-versa. Quando Gilberto Mansur saiu da revista, o cara que o substituiu (?) achou que o tipo de humor que fazíamos era muito grosso e, pior ainda, muito carioca, e acabou com a seção.

Numa das últimas edições tivemos a idéia ambiciosa de eleger os melhores chopes do Rio, para que os paulistas, quando viessem ao Rio, não ficassem mais perdidos que balas no Complexo do Alemão. Organizamos uma comissão julgadora, com o reforço de Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, Machadão e Chico PF e durante dois dias visitamos vinte bares previamente escolhidos para a seleção final dos 10 melhores chopes.

Foi um porre homérico, posto que Homero, em matéria de birita, não devia ser tão homérico assim – poetas, pelo menos os que conheci, bebem mal – e nem devia ser páreo para o seu colega Paulinho Mendes Campos, mau bebedor, e muito menos para Albino, Fausto, os outros jurados, todos profissionais do copo. Pra vocês terem uma idéia, em cada bar bebeu-se no mínimo cinco duplos, com alguns Steinhagers para rebater.

Dos bares selecionados há tanto tempo, todos, por incrível que pareça, continuam no ranking. Por ordem alfabética: Bar Bico, Brasil, Clipper, Ficha, Lamas, Lagoa, Lucas, Bar, Luiz, Petisco da Vila e Ocidental.

Adônis – Hoje me parece inexplicável que o Adônis, que existe há 60 anos, tenha ficado fora da nossa lista. Deve ser porque na época Benfica não estava no nosso itinerário ou talvez tenha sido o último bar a ser visitado e, no porre que se seguiu, foi esquecido. Nos últimos anos foi eleito e reeleito por nós do júri – sem compra de votos, como na reeleição do FH – o melhor chope da cidade, garantido pela imponente torre de bronze e longuíssima serpentina. A espuma é um creme; se enfiarem um palito ele fica impavidamente em pé, sem afundar.

Nas paredes, retratos em preto e branco de velhos lotações e bondes (tá lá o 53 – São Januário) que os anos não trazem mais. E a comida não faz feio ao lado do chope. Lambam os beiços com os pratos do dia: na segunda, galinha ao molho pardo, na terça, cozido, na quarta e sábado, rabada, na quinta, dobradinha e na sexta, feijoada. Bacalhau ao Zé do Pipo, bolinho de bacalhau e sardinha assada na brasa tem todo dia.

Uma porção, avisa Arnaldo (quarenta anos de casa), dá e sobra pra três bons garfos.

Adônis. Rua São Luiz Gonzaga, 2.156. Benfica. De segunda a sábado das 7 da manhã à meia-noite.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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