Em meados dos anos 60, seu Alfredinho implantou uma das primeiras oficinas de pintura automotiva de Manaus, localizada na Avenida Airão, no coração da Praça 14 de Janeiro. Profissional de mão cheia, rapidamente Alfredinho conquistou uma grande freguesia, sempre muito fiel e muito satisfeita. Sua fama correu a cidade inteira.
Um dia, apareceu na sua oficina o médico Paulo Abreu dirigindo um simpático Gordini branco perolizado. O médico queria mudar a cor do veículo porque ela sujava muito (como a maioria das ruas não possuía calçamento, o Gordini tinha de ir pro posto de lavagem quase todo santo dia, porque ficava coberto de lama ou poeira). O médico queria uma cor mais escura, talvez azul marinho, talvez vermelho vinho, talvez verde oliva.
Ele explicou o problema para o pintor, acertaram o preço e o prazo para o serviço ser realizado.
Na sequência, Paulo Abreu adiantou 50% do valor combinado, entregou a chave do veículo e já estava indo embora, quando Alfredinho questionou o mais importante:
– Sim, patrão, mas qual é a nova cor que o senhor quer que eu pinte o carro?
– Ah, você vê aí… Eu acho que a cor de vinho fica legal… – avisou Paulo Abreu. – É isso mesmo, pinta de cor de vinho! Um Gordini cor de vinho vai fazer muito sucesso!
Alfredinho começou o serviço naquele mesmo dia.
Duas semanas depois, o médico retornou à oficina. Levou um puta susto ao constatar que seu Gordini havia se transformado em um esplêndido canário belga: amarelo das calotas ao teto, do capuz ao porta-malas, do para-choque dianteiro ao para-choque traseiro.
– Olha, seu Alfredinho, eu acho que o senhor cometeu um equívoco. Eu pedi cor de vinho…
Dando o polimento final na sua obra-prima, Alfredinho nem discutiu:
– E então, chefia? Isso é cor de vinho… De vinho de buriti…
O médico tirou o seu Gordini-canário da oficina simplesmente cuspindo fogo.
E o mais renomado pintor automotivo de Manaus passou a ser conhecido internacionalmente como “Alfredinho Buriti”.