Por Sílvio Lancelotti
Apesar de todas as suas tolices extracampo, apesar de todas as confusões que a sua entourage perpetrou, Diego Maradona realizou, na Itália, em 1990, uma Copa memorável. Num dos seus rompantes mais negativos, chegou até mesmo a comandar a surra de um pobre segurança do alojamento da sua seleção, em Trigoria, nos arredores de Roma. De todo modo, contundido num tornozelo, vigorosamente batalhou para se recuperar e para enfrentar o Brasil, naquele fatídico prélio do Delle Alpi de Turim, em 24 de junho.
Então na Folha de São Paulo, encarregado de cobrir os eventos da competição na capital da Bota, diariamente, bem cedinho, eu visitava Maradona em Trigoria. Levava comigo uma fita métrica, com que media a involução do inchaço. Numa certa data, o tornozelo de Maradona chegou ao recorde de 25cm. Graças ao apoio do médico Raúl Madero, um santo, e do massagista Salvatore Carmando, um anjo, Maradona enfrentou o Brasil e deu o passe fatal a Cláudio Caniggia, naquele lance inesquecível em que o volante Alemão, seu companheiro de clube, na Itália, evitou atingi-lo no tornozelo.
Na semifinal, em Nápoles, a sua cidade na Bota, Maradona produziu um milagre ainda maior – mesmo contra a Squadra Azzurra, dividiu a torcida. E a Argentina superou a Itália, nos pênaltis, 2 a 1. A Argentina chegou à decisão da Copa, fisicamente acabada e desfalcadíssima. Pior, foi prejudicada por um árbitro banana, o azteca Codesal – que ignorou um pênalti claro de Augenthaler em Dezotti, expulsou dois platinos e ainda anotou um pênalti duvidoso de Sensini em Voeller. Alemanha 1 a 0. Na cerimônia de entrega da Taça Fifa à Alemanah, Mardona liderou um coro audacioso na direção das tribunas da cúpula cartolística da entidade: “Hijos de Puta! Hijos de Puta!”