Janeiro de 1989. Candidato a presidente do Brasil pelo PPS, o deputado federal Roberto Freire foi convidado pelos comunistas da cidade para conhecer a Banda Independente Confraria do Armando (BICA), que tinha como tema naquele ano “A Lenda do Boto-Tucuxi”. A marchinha ironizava a derrota de Gilberto Mestrinho e Josué Filho para Artur Neto e Felix Valois, ocorrida na eleição para prefeito do ano anterior.
Os compositores Guto Rodrigues e Celito Chaves fizeram uma marchinha carnavalesca em homenagem ao candidato e foram buscá-lo no aeroporto, chegando ao Bar do Armando em uma festiva passeata.
Roberto Freire ficou encantado com a fuzarca dos “biqueiros” e conversou animadamente com membros do primeiro escalão do prefeito Artur Neto, entre os quais o secretário de Finanças Serafim Corrêa, a secretária de Assuntos Comunitários Magela Andrade e a saudosa secretária particular Fafá Andrade.
Ex-membro do grupo Good Boys, Toninho do Sax fez várias exibições musicais para Roberto Freire, que estava em estado de graça.
Foi quando Celito Chaves resolveu apresentar ao candidato comunista o tira-gosto que fez a fama do boteco: o fabuloso pernil de leitão que só o Armando sabe a receita. Um pratarraz no capricho foi colocado na mesa da diretoria.
Cheio da truaca e com uma fome de anteontem, Celito começou a detonar impiedosamente as iscas de pernil. Quando ele se preparava para colocar um novo naco na boca, Heloísa Chaves deu um grito:
– Não faça isso, Celito! Olha bem o que você está fazendo…
Celito parou com a isca a meio palmo da boca, examinou melhor e percebeu que não era um pedaço de leitão, mas um band-aid já usado no formato de anel.
Puto da vida, ele exigiu a presença do português na mesa aos gritos:
– Português imundo, vem cá ver essa merda que você fez!
Sem saber do que se tratava, Armando se aproximou da mesa e, de repente, seu rosto se iluminou:
– Meu anelzinho! Vocês encontraram meu anelzinho!
Antes que Celito abrisse a boca para iniciar sua espinafração, o português já havia apanhado o band-aid, recolocado em cima de uma ferida pustulenta que trazia no dedo anelar da mão esquerda e ido embora cuidar da vida.
O deputado Roberto Freire saiu do bar convencido de que é esse tempero que faz o pernil do Armando ser um autêntico manjar dos deuses.