Causos de Bambas

Fast, o Rolo Compressor

Fast e Cosmos no Vivaldão. De óculos ray-ban, o empresário Joaquim Alencar, responsável pela façanha de trazer os gringos ao Amazonas
Postado por Simão Pessoa

Por Luiz Antonio Simas

Em 1930 houve dois fatos de tremenda repercussão na História do Brasil, e ambos envolveram disputas presidenciais. Não consigo definir qual foi o mais importante.

Nas eleições para a presidência da República, tivemos a vitória do paulista Julio Prestes sobre o gaúcho Getúlio Vargas. As denúncias de fraude eleitoral e o assassinato de João Pessoa, vice de Vargas, colocaram pimenta no vatapá. No fim do furdunço, Getúlio chegou ao poder: habemus Revolução de 30.

O outro evento, de significado quiçá profundo como a Revolução de 30, foi a crise detonada pelo processo de escolha do presidente do Nacional Futebol Clube, agremiação praticante do violento esporte bretão em Manaus, capital do Amazonas. Aos fatos.

O Nacional iria escolher seu novo presidente naquele ano. Pelo estatuto do clube, os jogadores tinham direito a voto. Uma manobra política sórdida, entretanto, alterou as regras do jogo e proibiu o voto dos atletas. Era a hora da revolução.

Liderados por Getúlio Vargas e Oswaldo Aranha, os jogadores resolveram chutar o balde e… êpa. Parem as máquinas, que estou chamando Jesus de Genésio. Troquei as revoluções. Recomeço no próximo parágrafo.

Liderados por Rodolpho Gonçalves, o capitão do time, e Vivaldo Lima, um dirigente que era o preferido dos jogadores na eleição presidencial, os dissidentes deram uma banana ao Nacional e fundaram um outro clube.

Resolveram, cheios de birra e razão, manter o nome Nacional e a sigla NFC. Tinham, porém, que trocar o significado do F – para que o nome não fosse idêntico ao do ex-clube. Que diabos inventar? A primeira sugestão foi F de Fantástico – Nacional Fantástico Clube. Não colou.

Alguém pensou em F de Formidando – Nacional Formidando Clube. Também não ganhou adeptos, coisa que lamento. Nacional Formidando é um nome ótimo para um time de futebol.

A ideia mais inusitada, no fim das contas, foi a de colocar alguma palavra em outro idioma. Proposta aceita, procuraram um professor de inglês do Ginásio Amazonense Pedro II, colégio tradicionalíssimo naquelas bandas. O douto professor descobriu a pólvora: Fast ! Isso mesmo. Fast, rápido, veloz. Ligeiro feito a criação do novo clube – que manteve o azul do antigo Nacional e ganhou o vermelho e o branco – as cores da bandeira do Amazonas.

Em pouco tempo o Fast já era sucesso absoluto, disputando títulos estaduais com o Rio Negro e conquistando, depois de cinco vice-campeonatos, o triunfo nos anos de 1948 e 1949. Era só o início da trajetória que colocou o Fast entre os maiores do futebol mundial – pelo menos na visão desse escriba.

Os fastianos, torcedores do rolo compressor da Amazônia, costumam citar três jogos como os maiores da história da agremiação. Verdadeiras sagas da história do futebol.

O primeiro, realizado em 1961 em Manaus, terminou com inacreditáveis 7×5 para o Fast contra o Sport de Recife. Há quem diga que esse Fast e Sport só se iguala em dramaticidade, na história do futebol, ao Itália 4×3 Alemanha pelas semifinais da copa do mundo de 1970.

O segundo grande triunfo aconteceu em pleno Maracanã, em 1978. O Fast enfrentou o Fluminense e, para estupor da torcida presente ao Mário Filho, sapecou categórico 2X1 nos cariocas. O Fluminense, desde então, tem o Fast atravessado na garganta e tenta, sem sucesso, marcar o jogo da vingança. Problemas de calendário impediram, até agora, a realização da revanche.

O terceiro jogo é quase inacreditável: Fast x New York Cosmos. Isso mesmo; o Cosmos, contando à época com Carlos Alberto Torres, Beckenbauer, Chinaglia e Romerito enfrentou, no dia 9 de março de 1980, o tricolor amazonense. A partida terminou em um empate sem gols, mas testemunhas garantem que o Fast, diante de quase 60 mil pessoas – o maior público da história do futebol do Amazonas – encurralou os gringos no campo de defesa e pressionou o jogo todo. O placar moral foi de, no mínimo, 4×0 para o time do povo.

Dizem os antigos que ainda ressoa, pelas imensidões da floresta, o grito de guerra que naquele jogo evocou toda a geração dos índios manaós. Era como se o espírito de Ajuricaba estivesse presente nas gargantas de todos os fastianos que, como a expulsar definitivamente os gringos das matas brasileiras, urraram no campo de batalha, durante boa parte da refrega:

– Aha, Uhu, ô Beckenbauer vou comer seu cu!

O Kaiser, intimidado, não acertou um mísero passe, pela primeira e última vez na carreira. Coisas da pajelança boleira.

Viva o Fast! Viva o rolo compressor, como diz o hino sensacional do time do povo:

Abraços.

(Publicado no site “Histórias Brasileiras”, no dia 23 de outubro de 2009)

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

Comentar

  • Poeta o craque Franz BECKENBAUER acertou todos passes , , o cara parecia um radar , nao sabe nem a cor da grama do vivaldao

    • O Luiz Antônio Simas mora no Rio de Janeiro. Ele não estava em campo, escreveu sobre o que alguém lhe falou, aliás, como eu também faço…

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