A Sputnik I foi o primeiro satélite artificial da Terra. Ela foi lançada pela URSS em 4 de outubro de 1957, no Cosmódromo de Baikonur, base de foguetes da URSS. Tratava-se de uma esfera de aproximadamente 50 cm e pesando 83,6 kg, que não tinha nenhuma função – a não ser transmitir um sinal de rádio (“beep”), que podia ser sintonizado por qualquer radioamador. O satélite orbitou a Terra por seis meses antes de cair. Seu foguete, chamado R7, pesava quatro toneladas e também entrou em órbita. Ele foi projetado originalmente para lançar ogivas nucleares.
A Sputnik II, lançada ao espaço em três de novembro de 1957, pesando 543,5 kg, enviou o primeiro ser vivo ao espaço, uma cadela de rua da raça laika, chamada Kudriavka. Dados biológicos do animal foram monitorados durante uma semana. O animal morreu por conta da reentrada na Terra, já que não havia planos para recuperar a cápsula.
A Sputnik III lançou um laboratório espacial de estudo do campo magnético e do cinturão radiativo da Terra. Foi lançado em 15 de maio de 1958, pesando 1.340 kg, e permaneceu em órbita por dois anos.
A Sputnik IV (também chamada Korabl-Sputnik-1) foi lançada ao espaço em 15 de maio de 1960. Sua carga de 4.540 kg era espetacular para a época, e representava um passo importante na preparação da URSS para colocar um homem no espaço. A cabine continha um manequim humano em tamanho natural. Uma falha nos retrofoguetes impediu a reentrada da nave de forma controlada na atmosfera terrestre.
Finalmente, a Sputnik V (também chamada Korabl-Sputnik-2), a última missão Sputnik, foi lançada ao espaço em 19 de agosto de 1960 com os cachorros Belka e Strelka, quarenta camundongos, dois ratos e diversas plantas. A espaçonave retornou a Terra no dia seguinte e, diferente do que aconteceu com a cadela Kudriavka, todos os animais foram recolhidos a salvo. A missão testou com sucesso a possibilidade de enviar seres vivos ao espaço e retorná-los numa boa.
No ano seguinte, em Parintins, Mestre Vavazinho, compositor do Garantido e pai do brilhante artista plástico Amarildo Teixeira, não contou conversa. Empolgado com a façanha soviética, ele fez logo uma toada de desafio ao Caprichoso, celebrando a nova era das conquistas espaciais:
– Os russos querem saber / Se a Lua é um planeta habitado / Se eles disserem quié / Eu vou brincar boi na Lua / Vou deixar meu São José / Eu vou mandar / Bonitos cartões-postais / Mostrando a beleza de lá / Pra te fazer inveja, contrário / Já sou campeão da Terra / Vou ser campeão lunar.
Considerado o “boi do povão” porque sempre teve seu curral no bairro operário de São José, o Garantido estava disposto a tripudiar do adversário. A toada virou um sucesso instantâneo na ilha.
Compositor do Caprichoso, Raimundinho Dutra conhecia bem a geografia territorial e o perfil social dos brincantes do “contrário”. Sabia que o bairro de São José ficava no início da ilha (para quem desce o rio Amazonas), separado do Paraná do Ramos pelo Paraná do Limão. E também sabia que os brincantes do “contrário” eram pessoas humildes, que só conheciam como meio de transporte as igarités, aquelas pequenas canoas impulsionadas a remo.
Sua toada de resposta bateu nessas duas teclas e no fígado do adversário:
– O contrário falou / Que queria ir à Lua / O contrário falou / Que queria ir à Lua / Olha contrário / Deixa de ser sonhador / O contrário quer ir à Lua / Não sabe nem o que é avião / O contrário quer ir à Lua / Não sabe nem o que é avião / Olha contrário / Pega tua canoa, teu vizinho e teu irmão / Pega tua família e vai pra boca do Limão.
A toada também virou um sucesso instantâneo na ilha.
Na realidade, as duas toadas “espaciais” mostraram que, desde o início dos anos 60, Parintins já estava antenada com o que acontecia de mais moderno no planeta. Não é pouca porcaria.