MARÇO de 1991. Empolgados com os bons frutos colhidos pelo bumbá Caprichoso por meio do “Movimento Marujada”, os torcedores do bumbá Garantido residentes em Manaus resolveram fazer seu próprio “Bar do Boi” a partir da criação informal da associação “Amigos do Garantido”, inspirada no “Movimento Marujada”.
O principal objetivo da associação era ajudar financeiramente a Batucada do touro branco. Nos primeiros anos, por uma série de circunstâncias, o Curral do Garantido – como ficou conhecido o evento promovido pelos Amigos do Garantido – não conseguiu se firmar em um local específico, o que desagradava seus torcedores e provocava uma baixa participação popular nas apresentações do touro branco.
O curral começou no Clube Municipal, na Av. Torquato Tapajós, depois se mudou para o ginásio do Atlético Rio Negro Clube, no centro da cidade, aí foi para o Clube Nostalgia, na Cachoeirinha, depois foi para a quadra do GRES Mocidade Independente de Aparecida, e assim por diante. As dissidências começaram a surgir dentro do movimento porque não havia jeito de fazer o “boi do povão” virar xodó dos manauaras nem encontrar um lugar fixo para suas apresentações.
A solução foi fazer uma associação jurídica, de fato e de direito, e começar a profissionalização na divulgação e promoção dos eventos do touro branco na capital amazonense. Nascia o Movimento Amigos do Garantido (MAG), cuja direção até hoje é a responsável pelos ensaios oficiais do boi em Manaus.
Contando o início do que seria o MAG, o jornalista e compositor Mencius Melo, um dos fundadores da associação, conta que em 1994, era diretor administrativo na gestão Jair Mendes, quando aconteceu uma reunião na casa de Roseani Novo, em Manaus. Era uma tentativa de unificar os “Amigos do Garantido”. No final de 1995, o presidente era José Walmir e outra reunião ocorreu, desta vez em Parintins, na casa do compositor Emerson Maia, então vice-presidente do boi.
– Acertamos que Marco Aurélio Medeiros e eu tentaríamos mais uma vez dar uma cara para o Garantido, em Manaus. Nessa fase, eu já havia espalhado uma centena de convites, por iniciativa própria, na capital do Estado. Convidei até o governador Amazonino Mendes – lembra, completando que em 1995 havia sido aprovado para a Ufam e estava morando em Manaus, o que facilitou os contatos, mas garante que foi com a entrada do presidente José Walmir nas articulações que houve a chancela para iniciar o Movimento.
Segundo Mencius Melo, as primeiras reuniões aconteceram na Associação dos Servidores do INCRA (Assincra), cujo presidente era Marco Aurélio Medeiros.
– Numa delas, escolhemos o nome que seria dado ao movimento. Júlio Viana estava presente e, por sugestão dele, decidimos nominar Movimento Amigos do Garantido. Era uma homenagem ao primeiro grupo que tentou hastear a bandeira do Garantido na capital do Amazonas. Então veio o sucesso no Olímpico Clube e o resto da história todo mundo já sabe – recorda Mencius Melo.
Marco Aurélio Medeiros, ex-presidente do MAG e um dos percussores também, recorda que numa das festas que eram realizadas na quadra da Aparecida, surgiu o questionamento do porquê não fazer os eventos do Garantido num lugar maior.
– Nessa época, o Mencius Melo frequentava minha casa e sugeriu, depois de uma festa, que poderíamos fazer algo maior. Participamos então, logo depois, de uma reunião com a diretoria do boi em Parintins e fizemos a proposta ao presidente José Walmir. Sugestão aceita, nós dois voltamos a Manaus e começamos a fazer convites para os torcedores do Garantido que a gente conhecia na cidade. Começamos a convidar essas pessoas para se reunir na Assincra, com cada um levando seus amigos. Já nesse encontro definimos que o nosso bar do boi seria na sexta-feira – recorda.
O nomadismo do boi da Baixa de São José em Manaus, entretanto, só teve um ponto final em 1996, por interferência direta de Arlindo Jorge Mubarac, o fundador do Bar do Bodeco. Colega de setor de Arlindo Jorge no Tribunal Regional do Trabalho, o advogado Almerinho Botelho era presidente do Olímpico Clube. Arlindo era sócio do clube. Durante uma conversa informal entre os dois amigos, Arlindo cantou a pedra:
– Porra, Almerinho, o Garantido não possui um curral fixo e vive se mudando de um lado pro outro que nem bosta n’água. Teria algum problema se os ensaios do boi fossem realizados no Parque Aquático do Olímpico Clube?
– Não vejo problema nenhum, parceiro! – explicou o advogado. – Pede pro pessoal do Garantido me procurar que eu converso com eles!
Dito e feito. Arlindo Jorge relatou sua conversa para Junior do Garantido, ele falou com o resto da galera vermelha e branca, uma comissão do touro branco foi conversar com o advogado e os ponteiros foram acertados.
No coquetel para o anúncio da nova parceria, com a presença de Zé Walmir, presidente do bumbá Garantido, foram expedidos 150 convites, mas compareceram mais de mil pessoas. Ficou acordado publicamente que o curral do Garantido funcionaria às sextas-feiras.
Naquele mesmo ano foi fundado oficialmente o Movimento Amigos do Garantido (MAG), cujo principal objetivo expresso nos estatutos seria contribuir financeiramente para a solidificação patrimonial e estrutural o bumbá Garantido. O MAG se tornou responsável pelos ensaios oficiais do boi em Manaus, incluindo a administração do curral no Olímpico Clube.
Entre os fundadores do MAG estavam Mencius Melo, Marco Aurélio Medeiros, Brito do BEA, Marconi Jucá, Pampico Bulcão, Edjander Mota, Maurício Filho, Liduína Moura, Roseani Novo, Julhão Viana, David Melo, Welciane Jacintho, Felipe Novo, Marcos Cohen, Izoney Thomé, Rivaldo Pereira, Val Batuel e Amarildo Teixeira. No primeiro evento realizado no Olímpico Clube, o curral ficou superlotado. O touro branco havia encontrado uma vitrine à altura de suas tradições.
Para surpresa de todos, os apoios surgiam naturalmente.
– Ganhamos capa de todos os jornais e um apoio da cerveja Antártica que estava em seu auge. Vendemos no primeiro evento quase 4 mil ingressos. Um número muito bom. Nesse ano, 1996, fizemos 17 eventos, todos batendo recorde de público. Um ano que tivemos os hits Lamento de Raça e Vermelho, e a presença do David Assayag vindo de Parintins. Mandamos R$ 150 mil à Associação, valor que ajudou a comprar um dos galpões da Cidade Garantido e no ano seguinte mais R$ 170 mil que comprou outro espaço – relembra Mencius Melo.
Outro que também tem histórias para contar é o multimídia Rivaldo Pereira. Ele lembra que conheceu o artista Amarildo Teixeira quando era diretor do GRES Vitória-Régia. Algum tempo depois, numa reunião em Parintins, Amarildo citou seu nome, numa reunião de diretoria quando estavam sugerindo pessoas para um projeto do Garantido em Manaus.
– Mencius Melo foi à minha casa e me convidou para uma reunião no clube da Assincra. Lá eu soube que a ideia era fundar um movimento para realizar eventos em Manaus. Era o ano de 1996 – recorda.
Rivaldo Pereira diz que procuraram vários locais e optaram pelo Olímpico Clube, que se tornou um marco para o Garantido na capital. Na semana do evento, segundo ele, programaram um coquetel para 150 convidados, entretanto para surpresa geral apareceram mais de mil pessoas e logo, no primeiro ensaio o Olímpico superlotou.
– Batemos o recorde de público na cidade e já mandamos uma boa quantia em dinheiro à Parintins. Além disso, quebramos a hegemonia do contrário em Manaus e tornamos o Olímpico nossa vitrine – relembra o produtor e apresentador oficial nos palcos do MAG.
Alguns anos depois, o MAG passou a ser dirigido por duas mulheres: Izoney Thomé e Welciane Jacintho. Para a presidente Izoney Thomé, estar à frente do MAG era um desafio, mas também um prazer. Ela explicou que o MAG possui 158 voluntários associados, contudo apenas uma parte atua na organização de eventos para divulgar as cores do boi Garantido.
Izoney avalia que uma gestão feita por mulheres é diferente porque há todo um envolvimento emocional no processo, acabando por envolver todos os familiares e a diretoria termina sendo um grande grupo.
Em 2016, o MAG foi homenageado com uma placa, fincada na Cidade Garantido, em reconhecimento ao trabalho, realizado ao longo de mais de duas décadas pelo “Boi do Povão”. O resto é história.