Irmão do ex-vereador Oneldes Martins (hoje nome de uma rua nas imediações do bumbódromo), o agricultor Lodi Martins morava no Paraná do Espírito Santo, na zona rural de Parintins, e vivia às turras com duas irmãs bem idosas, suas vizinhas, por conta de questões fundiárias.
Pra completar, Lodi Martins possuía um garanhão puro-sangue árabe e as duas irmãs, uma potranca manga-larga.
Como soe acontecer nessas ocasiões, um dia o garanhão pulou a cerca e emprenhou a potranca. Começou uma nova guerra entre os vizinhos para saber quem era o legítimo dono do potro. Depois de muitas ameaças de parte a parte, um agente comunitário resolveu intervir na questão e levou os litigantes para decidirem a questão no fórum de Parintins.
O juiz da comarca era o enfezado Dr. Vasconcelos que, em razão de um defeito congênito (seu braço direito era atrofiado e meio curvo sobre a lateral do tórax), recebera o sugestivo apelido de “Vamos passear”.
As duas velhinhas entraram na sala de audiências já falando alto, xingando o agricultor e exigindo a posse imediata do potrinho.
O Dr. Vasconcelos ficou mais puto do que de costume:
– Vamos fazer silêncio, que isso aqui não é um mercado! – disparou, asperamente.
Aí, se virando para Lodi Martins, determinou:
– Fale o senhor primeiro! E vocês duas fiquem caladas aí ou vão passar o resto do dia tagarelando no xilindró!
O agricultor aproximou sua cadeira para bem perto da mesa do juiz.
– Dotô, pra sua melhor compreensão, eu vou lhe dar um exemplo.
Aí, batendo no ombro aleijado do juiz, na maior intimidade, descascou o abacaxi:
– Por exemplo, dotô, o senhor é uma égua e eu sou o cavalo. Eu lhe fodo, dotô! O senhor fica prenho. Nasce um cavalinho. Quem é o dono desse cavalinho, dotô?
À beira de um ataque de nervos, o juiz deu um murro na mesa e explodiu:
– É a puta que pariu, seu Lodi! A puta que pariu!
As duas velhinhas vibraram:
– Eu não falei que era nosso! Eu não falei que era nosso!
Quase que o juiz mete todo mundo na cadeia.