Maio de 1956. Reunido com vários amigos no Bar Avenida, o poeta Américo Antony começou a recitar o seu famoso poema “Igapó” e um garçom parou perto da mesa para apreciar o bardo soltando a voz.
Quando o famoso “guru da Amazônia” iniciou a segunda estrofe (“Lá o rio oculta amplas fadigas/ E as sombras abrem em flor de suavidade/ E espera e dorme e sonha a eternidade/ De insetos de ouro e prónubas formigas…”), o garçom começou a rir, provavelmente porque nunca tinha ouvido falar antes em “prónubas formigas”, as tais formigas “noivas”.
O poeta parou de recitar o poema e encarou o ouvinte impertinente:
– O senhor é poeta?
– Não sou não, senhor! – respondeu timidamente o garçom.
– Pois então, chispa-se daqui. Quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão? – inquiriu Antony.
E antes que o garçom pudesse falar qualquer coisa, fulminou:
– Porque comigo ou é muita poesia ou é muita porrada!
O garçom quase saiu correndo do bar.