Por Marcos de Vasconcellos
Uma ocasião, eu ainda era estudante, fui chamado por uma senhora para fazer o projeto de reforma do apartamento dela em Copacabana. Antecipando-se à obra, madame mandara esvaziar o apartamento inteiro, tirou todos os móveis, cortinas, tapetes e lustres. Na grande sala vazia, ela me orientava sobre o que eu deveria prever, seus gostos e desejos.
– Aquela coluna, por exemplo – e ela me apontou uma solitária coluna num dos cantos da sala, coluna com um metro de diâmetro toda bordada de caneluras à maneira grega. – Quero tirar!
– Qual é mesmo este andar?
– Oitavo.
– Quantos andares tem o edifício?
– Doze.
– Então não pode, minha senhora. Se eu tirar a coluna, pelo menos os quatro andares de cima vão invadir a sua sala.
– O senhor acha? Mas foi meu marido que fez…
– Seu marido é engenheiro?
– É, sim senhor.
– A senhora perguntou a ele se podia remover a coluna?
– Não. A obra é uma surpresa para ele. Ele agora está viajando, está fazendo um curso nos Estados Unidos.
– Bom, surpresa, eu não tenho a menor dúvida, ele vai ter.
E discorri, soberano, sobre a estabilidade das coisas, a confiabilidade dos cálculos, resistência dos materiais, momento vetorial, cisalhamento, flambagem (no sentido isostático, não culitário), em suma, apliquei à mulher, perplexa, um banho de cálculo estrutural.
Quando dei a aula por encerrada, ela caminhou até a coluna, abraçou-a e a trouxe até mim. Tratava-se de uma coluna oca, de madeira, sobre rodízios, que, uma vez escancarada, exibia um fornido bar.