Por Marcos de Vasconcellos
O tio do ator-diretor-teatrólogo Antônio Pedro era do tipo sanguíneo, daqueles que coram a qualquer emoção, por menor que seja.
Certo dia, logo que terminou o almoço num restaurante da cidade, onde era completamente desconhecido, pediu a nota e verificou que tinha esquecido a carteira de dinheiro. Para qualquer pessoa a situação é, no mínimo, desconfortável, para ele era o desastre.
Remexendo as profundezas das algibeiras da roupa conseguiu amealhar algumas notas encarquilhadas e alguns níqueis que, somados ficavam muito aquém do devido.
Com o rosto em brasa, chamou o garçom e explicou-lhe a situação constrangedora. O português gritou para o caixa, indiferente à sala lotada;
– Ó caixa! A nota reza cinco e dois e o freguês só tem três e oito!
O caixa fez um gesto entre o desdenhoso e o enojado, como quem diz “ora, deixa esta merda pra lá!”
Vermelho como um pimentão, o tio de Antônio Pedro só faltou se esconder debaixo da mesa.