Fevereiro de 1998. Depois de mais um dia de batalha, o pintor de paredes Sebastião Chagas (aka “Sabazinho”), exímio tocador de surdo de segunda da bateria da Balaku-Blaku, estava no porto das balsas de São Raimundo esperando a travessia para Iranduba, onde reside. Devia ser umas 10 horas da noite.
De repente, uma mundana já entrada nos anos se aproximou daquele rapaz solitário e deu o bote:
– E aí, bonitão. Vamos fazer um programa?
Sabazinho conferiu a mercadoria. Apesar de coroa, ela tinha umas pernas grossas e uma bundinha apetitosa. Timidamente, ele arriscou:
– Quanto é o programa?
– Aí, depende – explicou a mundana. – Se for serviço completo, 50 reais. Só cuzinho, 30 reais. Só xaninha, 20 reais. Só pipo, 10 reais.
– E quanto custa o local do programa? – insistiu Sabazinho.
– Pra você, vai ser 0800! – avisou a mundana. – Eu tenho uma amiga aqui perto que me empresta o quarto dela. Vai ser de grátis!
Sabazinho explicou seu drama pessoal.
– Olha, minha linda, eu bem que gostaria de fazer um programa com você, mas estou sem grana. Tenho apenas 10 reais na carteira e ainda preciso apanhar um ônibus do outro lado do rio Negro para ir pra Iranduba, onde moro. Fica pra outra vez…
– Quanto é que custa o ônibus pra Iranduba? – questionou a mundana.
– Dois reais! – explicou Sabazinho.
A mundana pensou, pensou, pensou. Aí, decidiu:
– Tudo bem. Eu vou te dar a minha xaninha por 8 reais…
Sabazinho tirou do bolso a amarfalhada nota de dez reais, entregou pra mulher e os dois se dirigiram até uma estância caindo aos pedaços, a uns trezentos metros dali. A mundana apanhou uma chave com uma garota desdentada, os dois pombinhos entraram em um quarto mal iluminado e iniciaram a ação.
Com quinze minutos de fuque-fuque, a mundana apelou:
– Você não quer inteirar os dez reais botando no meu cuzinho?…
Sabazinho nem pensou duas vezes. Colocou a mulher de bruços e mandou ver. Meia hora depois ele deixou a estância, apanhou a balsa, desceu no Cacau Pirêra e foi andando a pé até a vila de Iranduba (22 km de distância).
No dia seguinte, comentando a façanha com os amigos, ele deu uma explicação lógica para o sacrifício auto imposto:
– Mas, parente, que pessoa no mundo ia dispensar um cuzinho por causa de dois reais?…