Em abril de 1998, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Distrito Federal, promoveu no sábado, 11, a malhação de Judas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, com um boneco de 12 metros representando o presidente Fernando Henrique Cardoso. Foram gastos 120 metros de tecido, isopor e espuma.
Ao lado do boneco de FHC estavam “sete anões” – políticos que apoiaram a aprovação das reformas administrativa e da Previdência daquela época (sim, o Brasil continua sendo um museu de grandes novidades. Fazer o que?).
Os bonecos custaram R$ 10,8 mil (ou R$ 32 mil, em valores de hoje). O dinheiro foi arrecadado entre os sindicatos filiados à central.
A CUT tentou incluir o boneco de FHC no Guiness, livro que registra os recordes mundiais, como “o maior Judas do mundo”, mas não obteve êxito porque não havia tal categoria.
O responsável pela confecção dos bonecos foi o onipresente Paulo Mamulengo, que faleceu nesta terça-feira, 18, em Brasília (DF).
Na foto lá de cima, Paulo descansa seus glúteos na cara do FHC, ainda na fase de pré-produção da encomenda.
Na foto abaixo, o boneco de FHC já em traje de gala e pronto para ser malhado.
Quatro anos depois da presepada, em setembro de 2002, Paulo Mamulengo estava se formando em Filosofia, na Universidade Federal do Amazonas, e era presidente do Centro Acadêmico Filosófico e Cultural do Amazonas (Cafca), o pomposo nome do centro estudantil da faculdade.
Durante a 10ª Semana de Filosofia, realizada no ICHL, uma repórter da TV Amazonas resolveu entrevistá-lo em tempo real, sem cortes ou edição:
– Eu estou aqui com o estudante de Filosofia Paulo de Tarso, atual presidente do centro acadêmico de Filosofia, que vai falar sobre a importância deste evento para a Universidade Federal do Amazonas. Bom dia, presidente! Para começar, uma pergunta: como está atualmente o curso de Filosofia? – começou a repórter.
– Por mim, esse curso já devia ter sido fechado há muito tempo! – respondeu Paulão, sem disfarçar a irritação.
– Mas como assim, ser fechado?… – questionou a repórter.
– É evidente, minha filha. É impossível um curso de Filosofia sem filósofos! – afirmou Paulão. – Acompanhe o meu raciocínio…
E o bonequeiro liberou sua verve:
– O chefe do Departamento de Filosofia se chama Guaraciaba Tupinambá. Isso é nome de filósofo? – indagou Paulão. E ele mesmo respondeu: – Não, claro que não. Isso é nome de puxador de toadas ou de pajé de boi-bumbá de Parintins…
A repórter ficou muda. Paulão continuou:
– A coordenadora do curso se chama Marilina. Isso é nome de filósofa? Não! Isso é nome de gordura saturada. Você chega numa mercearia e diz: – Me vê oito pães franceses e dois tabletes de marilina.
A repórter continuou muda. Paulão foi em frente:
– O coordenador de Filosofia Antiga se chama Deodato. Isso é nome de filósofo? Não. Isso é nome de remédio pra escabiose. Você chega na farmácia e diz: – Me arruma um frasco de deodato de benzila pra eu matar essa curuba da muléstia!
A repórter continuou muda. Paulão continuou matando a cobra e mostrando o pau:
– O chefe do Departamento de Filosofia Moderna se chama Paulo Monte. Isso é nome de filósofo? Não. Nome de filósofo é Heráclito de Éfeso, Zenão de Eléa, Tales de Mileto… Paulo Monte de quê?… Só se for de bóstia…
A repórter encerrou a matéria no maior sufoco, querendo se esconder no primeiro buraco disponível.
Professor de Filosofia Comparada, Alderi Marques, que havia assistido à polêmica entrevista pela televisão, ficou puto. Na primeira oportunidade, peitou o desabusado aluno:
– Pô, Paulo, sacanagem! Você usou o espaço nobre da rede Globo pra esculhambar com a nossa honrada universidade…
– Olha, bicho, fica frio porque eu livrei a tua cara! – avisou Paulão.
– Livrou minha cara uma porra! – devolveu Alderi.
– Livrei sim, bicho! – explicou Paulo Mamulengo, sem se alterar. – Primeiro que Alderi não é nome de professor de Filosofia. Alderi é nome de dama fuleira. Procê ter uma ideia, só lá em Picos, no Piauí, eu comi duas quengas chamadas Alderi e não paguei um tostão…
O professor Alderi quase partiu para a ignorância.