Janeiro de 1994. O publicitário Renato Pitanga estava em Las Vegas, nos EUA, acompanhando seu irmão, o empresário Edson Souza, dono da empresa carioca Apoio Técnico, numa visita à “International Consumer Electronics Show” (CES), considerada a maior feira de produtos eletrônicos do mundo.
Para quem não sabe, a empresa Apoio Técnico nasceu em 1986 por iniciativa de seu fundador, o radialista Edson Souza ou “Edson Pitulino”, como era comumente conhecido no mercado de radiodifusão, onde trabalhou por 18 anos como operador de áudio e sonoplasta.
Nascido em Manaus, Edson trabalhou na Rádio Baré e na TV Educativa, se transferindo, em 1974, para o Rio de Janeiro, tendo trabalhando nas rádios Tupi FM, Nacional e Jornal do Brasil, saindo desta última para fundar sua própria empresa.
Participando da CES desde 1992, Edson Pitulino costuma levar cerca de oito funcionários em regime de boca livre total para travarem conhecimento sobre os últimos avanços tecnológicos no campo da radiodifusão. Os números da CES impressionavam qualquer um: mais de 500 mil m² em quatro pavilhões de exposições, distribuídos pelo Las Vegas Convention Center e pelos hotéis Hilton, Riviera e Alexis Park, 30 salas de conferência, um gigantesco auditório e média de 110 mil visitantes e 4 mil jornalistas especializados do mundo inteiro.
O publicitário Renato Pitanga ficou zonzo com tantos expositores, desde gigantes tipo Hewlett-Packard, Intel, Epson, Logitech, Microsoft, National Semiconductor, Panasonic, Pioneer, Samsung, Sony, Texas Instruments e Toshiba a semidesconhecidos como XM Satellite Radio, Kyocera, Palm, Harman, Sirius Satellite Radio e Zenith.
Quatro dias depois, tendo conseguido visitar apenas metade dos expositores, a turma do Apoio Técnico resolveu voltar para sua base operacional, em Los Angeles, e de lá retornar para o Brasil. Edson Pitulino alugou dois sedans médios de luxo (modelo Buick Park Avenue) e dividiu a turma em duas equipes. Um dos carros, guiado por ele, levaria quatro funcionários. Renato Pitanga assumiria o volante do outro e também levaria quatro ocupantes.
Os dois irmãos se despediram e caíram na estrada. Assim que entraram na primeira freeway, Edson Pitulino, dirigindo a 200 km/h logo sumiu na estrada. Como a distância entre as duas cidades é de 400 km, ele pretendia fazer a viagem em duas horas. Renato Pitanga, a 150 km/h, estava na dele, mas logo deu um toque pra rapaziada:
– Eu só vou dirigir até ali perto de Victorville. De lá em diante, alguém assume a direção, porque eu estou muito cansado e morrendo de sono!
– Nós também! – repetiram em uníssono os demais ocupantes do carro.
– Além disso, nenhum de nós sabe dirigir! – avisou um outro sujeito.
Renato Pitanga não disse nada. Meia hora depois, os passageiros do carro estavam dormindo que roncavam. No meio daquele retão infinito da freeway, o publicitário deu uma freada espetacular de fritar pneu e depois voltou a acelerar. Com o solavanco do carro, os quatro sujeitos acordaram assustados. O que estava no banco do carona era o mais nervoso.
– Que porra foi essa? – indagou.
Passando as mãos nos olhos, Pitanga explicou calmamente.
– Sei lá! Eu acho que passei uns cinco minutos dormindo aqui na direção e o carro quase saiu da estrada…
O sujeito olhou o mostrador. Pitanga estava a 180 km/h. O sujeito ficou apavorado:
– Puta que pariu, Pitanga! Você passou cinco minutos de olhos fechados com essa merda a 180 km/h?
Pitanga confirmou com a cabeça. Os três sujeitos do banco de trás estavam perplexos.
– Caralho, você está querendo nos matar? – perguntou o sujeito do banco de carona.
Pitanga assentiu negativamente com a cabeça, enquanto continuava coçando os olhos para espantar o sono.
– Esse cara é maluco, porra! Esse cara é maluco! Como é que alguém passa cinco minutos de olhos fechados dirigindo a 180 km/h? Só se o cara for maluco, porra! – reclamou outro sujeito.
Foi quando Pitanga resolveu dar o cheque mate:
– Acho bom vocês deixarem de frescura, meu caralho, porque vocês quatro também estavam dormindo. Eu simplesmente apaguei. Ou vocês acham que Deus fez o sono só pra vocês? Quando o sono chega, a gente simplesmente apaga. Vou fazer o que?…
Os sujeitos ficaram mais nervosos ainda. Além de maluco, o motorista estava disposto a repetir a experiência de novo porque se achava coberto de razão.
– Para essa porra aí, Pitanga, para essa porra aí, que eu tenho carteira internacional e sei dirigir. Vai matar o caralho! – berrou um dos sujeitos do banco de trás.
Pitanga não se fez de rogado. Trocou de lugar com o sujeito e foi dormindo o sono dos justos até Los Angeles. Nenhum dos outros quatro ocupantes do carro quis pregar os olhos de novo. Era um bando de manés.