Março de 1983. Recém-criado por um decreto do então governador José Lindoso, o município de São Sebastião do Uatumã necessitava promulgar sua lei orgânica, mas os vereadores eleitos não tinham nenhuma experiência no assunto.
Para resolver o impasse, o governador Gilberto Mestrinho despachou para o município alguns procuradores do Ministério Público, para prestar assessoria aos vereadores.
Durante a sessão solene, de apresentação dos procuradores aos vereadores, o líder da oposição, Walder Bezerra, pediu a palavra:
– Quer dizer que vossecelenças vieram de Manaus pra ensinar os cabocos daqui a fazer as nossas leis? Pois nós não quer a ajuda de vocês não, que a gente é meio cabrero com essa raça lá da capitar, que vem pra cá só cagar regra. A gente foi eleito pelo povo e vai fazer o que o povo pedir. Se depender de nós, vocês tudo vai voltar agora mesmo pra Manaus e nunca mais coloca os pés aqui…
Irritado com a intervenção do líder da oposição, o presidente da Câmara de Vereadores, Chico Bento, ligado ao partido governista, retomou a palavra:
– Muito me admiro, vossecelença, do senhor! O governador manda a esta Casa essas pessoas do mais alto gabarito para nos ajudar e o senhor vem e destrata as autoridades. Meça suas palavras! Meça suas palavras! Vossecelença é minoritário nesta Casa e não pode falar no nome da maioria. Se vossecelença não quer colaborar é um direito que lhe cabe, mas se quiser tumultuar a sessão, vou ser obrigado a pôr vossecelença no olho da rua…
Sentindo-se ofendido, o líder da oposição pediu novo aparte e subiu nas tamancas:
– Olha, Chico Bento, tu é meu compadre! Tu não me agrave! Tu não me agrave, que eu fico mordido. Porque vossecelença sabe da minha excelença…
Aí o presidente da Câmara resolveu encerrar o assunto:
– Excelença, eu respeito vossecelença, que é inclusive meu compadre, mas vossecelença está querendo mesmo é levar uma porrada no meio da venta!
A sessão foi suspensa.