Por Marcos de Vasconcellos
Nos tempos magérrimos, antes do começo da carreira luminosa feita com a ajuda das mulatas-que-não-estão-no-mapa, o futuro produtor cultural Osvaldo Sargentelli vivia numa paúra de dar dó e morava num apartamento desses estilo catre-penico-bico-de-gás.
O contrato de locação era meio de boca e o senhorio, aproveitando-se disso, aumentava o aluguel todo mês, sem que o inquilino pudesse fazer algo para evitar a exploração.
Mas um dia pôde. Ficou na calçada em frente ao prédio olhando interessado um ponto qualquer da fachada. Foi juntando gente.
– O que houve? – perguntou um popular ao Sargento.
– Não está vendo? Olha lá bem naquele canto. Uma fissura. E o prédio está meio inclinado, reparou?
– É mesmo, rapaz! Esse troço pode cair a qualquer hora!
Meia hora depois chega a polícia que, inteirada do perigo, isola o quarteirão. Chamam a Defesa Civil, engenheiros do Estado, Corpo de Bombeiros.
Comprovam, mesmo sem maior investigação, que o prédio corre sério risco de cair e deve ser evacuado. No pior sentido, afinal, desculpe-me, mas como disse o morador do 318, “que cagada…” no que o do 768 concordou inteiramente.
“Prédio pode ruir a qualquer momento”, manchete do jornal O Dia. As primeiras páginas dos outros jornais gritavam mais ou menos o mesmo.
Famílias ao desabrigo, reunião de emergência com o secretário de Obras que garante não haver perigo iminente.
– Os engenheiros estão estudando o assunto com o maior cuidado – disse a autoridade.
– Isso é um descalabro! Um desaforo! – berrava Sargentelli. – E os preços extorsivos dos aluguéis que pagamos? Só funciona um elevador, imagine! Vou processar o Condomínio!
E mudou-se, deixando o caos instaurado.