Na época em que os bichos falavam (“e aí, bicho, tudo bem?”), o seringal do Caitaú fazia parte da comarca de Carauari. Ninguém sabe explicar o significado do nome, mas dizem que sua origem é indígena.
O seringal do Caitaú deu origem a uma vila, que depois virou uma pequena cidade, que depois virou a capital do município de Juruá, quando este foi desmembrado de Carauari no final dos anos 70, durante o governo de José Lindoso.
O pessoal de Carauari, que detestou ter perdido parte de seu território, continuou se referindo pejorativamente ao novo município como Caitaú, para desespero dos juruaenses.
Recém-eleito prefeito do município, Tabira Ferreira, irmão do eterno subsecretário municipal de Obras de Manaus, o ubíquo Tabajara Ferreira, tomou posse no seu primeiro mandato (hoje ele está no terceiro ou quarto, sei lá) em meio a uma encrenca federal: como o prefeito anterior não recolhia para os cofres públicos as receitas provenientes das contas pagas para a Telamazon, a companhia telefônica simplesmente parou de operar na cidade.
A cidade de Juruá ficou isolada.
Para minorar o sofrimento da população, Tabira comprou um possante radiotransmissor-receptor, faixa cidadão, que instalou no seu gabinete, e as comunicações passaram a ser feitas por meio das ondas hertzianas.
Diariamente, centenas de moradores faziam fila na sede da prefeitura para mandar recados e notícias para seus parentes.
Determinada manhã, enquanto Tabira despachava com seu secretariado, o rádio quebrou a monotonia da reunião com um apelo desesperado:
– Caitaú, Caitaú, Caitaú, Carauari chamando urgente. Câmbio!
Tabira nem se dignou a olhar para o aparelho.
Cinco minutos depois, recomeçou a ladainha.
– Caitaú, Caitaú, Caitaú, Carauari chamando urgente. Câmbio. Responda se estiver na frequência, Caitaú. Câmbio. Carauari chamando urgente. Câmbio.
O prefeito continuou despachando normalmente, como se o apelo não lhe dissesse respeito. E o locutor do município vizinho na mesma ladainha.
Lá pelas quatro horas da tarde, provavelmente cansado de bater na mesma tecla, o locutor de Carauari resolveu mudar de tática:
– Juruá, Juruá, Juruá, Carauari chamando urgente. Câmbio.
Tabira deu um salto sobre o microfone, abriu a frequência e mandou bala:
– Custou, mas aprendeu o nome do município, né, filho da puta?… Fala o que tu tá querendo dizer, desgraça! Juruá na escuta. Câmbio.
Nunca mais chamaram Juruá de Caitaú.