Club dos Terríveis

Jamelão, Kid Mahal e Baby Rizzato na TV A Crítica

Postado por Simão Pessoa

Agosto de 1996. Lenda viva na história do samba brasileiro, o rabugento Jamelão estava em Manaus para fazer um show no clube Nostalgia, na Cachoeirinha.

Para aproveitar a manhã de sábado, seus cicerones – Edu do Banjo e Caio do Cavaco – o convenceram a dar uma entrevista no programa da jornalista Baby Rizzato, um dos mais prestigiados e de maior audiência naquele horário na cidade.

Por volta do meio-dia, eles chegaram ao estúdio da TV A Crítica.

O produtor do programa, Kid Mahal, falou que a pauta já estava completa e que não tinha brecha para o cantor mangueirense ser entrevistado.

A pauta era uma senhora ensinando a fazer flores com papel machê e um poeta de Alvarães falando sobre seu primeiro livro, custeado pela prefeitura do município.

– Porra, Kid Mahal, mas é o Jamelão, o maior sambista vivo de nossa história. Vai ser uma honra pra Baby entrevistar ele… – explicou Edu do Banjo.

Kid Mahal, que é da geração que acha que o samba começou com os grupos Karametade e Molejão, nem deu bola.

Ele se comunicou pelo “ponto” com a apresentadora, dizendo que tinha um senhor idoso, sambista das antigas, querendo ser entrevistado por ela.

A apresentadora devolveu a bola pra ele.

O produtor, então, se encheu de marra e foi enfático: se quisesse mesmo ser entrevistado pela Baby Rizzato, o cantor deveria ter marcado a pauta uma semana antes, igual a todo mundo.

Não havia exceções.

Mais enfezado do que de costume, Jamelão ouvia aquela discussão inútil sem mover um músculo do rosto.

Os radialistas Walter Yalas e Carlos Caldas, da rádio A Crítica, fãs confessos do cantor, que iam passando casualmente pelo corredor da emissora, nem pensaram duas vezes: arrastaram Jamelão para o estúdio da rádio, entraram no meio do noticiário que estava rolando e conversaram quinze minutos com o sambista.

Saíram do estúdio de alma lavada.

Quando Baby Rizzato soube do ocorrido, a apresentadora não escondeu o constrangimento e quis pedir desculpas a Jamelão.

Até então, ela só sabia que “um sambista das antigas” estava querendo participar do seu programa porque tinha sido aquilo que Kid Mahal havia falado pelo “ponto”.

Jamelão estava irredutível:

– Me leva embora, porra, que eu não quero mais nem ouvir falar no nome dessa mulher…

Tratado a leite de pato onde quer que desse as caras, o grande Jamelão foi barrado no baile pelo internacionalmente conhecido Kid Mahal.

Pode isso, Arnaldo?…

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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