Folclore Nativo

O Festival do Peixe Ornamental de Barcelos

Postado por Simão Pessoa

Nas últimas décadas, o modelo de festival parintinense, com apenas dois grupos folclóricos disputando a competição, acabou sendo adotado na maioria dos municípios amazonenses.

Desde 1995, a cidade de Barcelos, localizada no Alto Rio Negro, realiza o Festival do Peixe Ornamental, que acontece sempre na última semana de janeiro.

O festival foi criado em 1º de julho de 1994, pela Prefeitura Municipal de Barcelos, através do Decreto nº 005/94, de autoria do Prefeito Valdeci Raposo e Silva, com o objetivo de divulgar a cultura e os produtos regionais, principalmente o peixe ornamental (o município é o maior exportador do país).

A principal atração do festival são as apresentações das agremiações culturais Cardinal e Acará-Disco, um “duelo” que envolve muita música, dança e arte cabocla e indígena.

Nas cores azul e vermelho, a agremiação Cardinal leva o nome do peixe ornamental mais exportado da Amazônia brasileira, responsável por quase 60% do volume anual de exportações.

A pesca do cardinal é feita durante o dia, nos lagos, igarapés e afluentes do grande Rio Negro. Os instrumentos utilizados para a sua captura são canoa, remo, rapixé e cacuri.

Representado pelas cores preto e amarelo, a agremiação Acará-Disco representa um peixe de cores exuberantes, bastante cobiçado pelo mercado internacional, bastante comum nas águas do Rio Negro e seus afluentes, principalmente nos rios de água “branca”.

A captura do acara-disco é feita quase sempre durante a noite e os instrumentos utilizados para sua captura são canoa, remo, lanterna e puçá.

Durante os três dias de festival acontece uma programação bastante diversificada que inclui atrações musicais nacionais e regionais, exposições, feiras de artesanato e de cultura regional, além, é claro, de visitas guiadas às praias e às belezas naturais do arquipélago Mariuá, que tem cerca de 1.400 ilhas e é considerado um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo.

As atrações musicais e as apresentações dos peixes Cardinal e Acará-Disco ocorrem no “Piabódromo” (de piaba, tipo de peixe pequeno comum nas margens dos rios, lagoas e riachos), uma arena com capacidade para receber cerca de 10 mil espectadores.

Nas arquibancadas fica os torcedores das duas agremiações, chamados de “cardumes”, que também fazem um espetáculo à parte com suas alegorias de mão.

A disputa entre os dois grupos é tão acirrada que, em 28 edições do festival, o Acará-Disco venceu 13 vezes, o Cardinal, 12, tendo ocorrido até hoje um único empate, em 2009.

Em 2010, o prefeito José Beleza simplesmente proibiu o festival, por razões nunca esclarecidas. Em 2021 e 2022 não houve disputa por conta da pandemia do covid-19.

Durante o festival, a badalada Praia Grande, localizada bem em frente à cidade, na margem oposta do rio, também se transforma em palco alternativo de atrações musicais.

O município de Barcelos tem aproximadamente 30 mil habitantes. Ele se tornou conhecido internacionalmente como cenário favorito da pesca esportiva do tucunaré e pela grande quantidade de lodges e hotéis de selva de alto padrão existentes na sua zona rural, muitos deles só acessíveis por barcos.

No seu território estão localizados o Parque Nacional do Jaú, o Parque Estadual do Araçá e a Área de Preservação Ambiental de Mariuá.

Em Barcelos também está localizada a cachoeira do El Dorado, considerada a maior queda d’água livre do Brasil, com quase 400 metros de altura, e o abismo Guy Collet, considerado a caverna mais profunda do Brasil.

O Festival do Peixe Ornamental de Barcelos (FESPOB) foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado por meio do Projeto de Lei nº 13/2018, de autoria do deputado estadual Dr. Gomes (PRP), aprovado pela Assembleia Legislativa do Amazonas.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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