No próximo dia 27, sábado, na arena do Centro Cultural Povos da Amazônia, os dois bumbás mais antigos de Manaus voltam a se enfrentar numa disputa pelo título de campeão da categoria “Bois de Manaus” (antiga Categoria Master A). Agendem e prestigiem porque será um marco histórico no 66º Festival Folclórico do Amazonas.
O bumbá Corre Campo, da Cachoeirinha, fundado em 1942, é o atual hexacampeão da categoria. O bumbá Tira Prosa, de Santa Luzia, fundado em 1944, vai fazer sua primeira disputa pelo título. O bumbá Garanhão, de Educandos, fundado em 1991, fecha o trio em disputa nessa última noite.
Antes da nova mudança feita no festival, o bumbá da Categoria Master A que obtivesse a menor pontuação, será rebaixado para a categoria Master B. Os três bois da suprimida categoria Master B (Brilhante, Clamor de um Povo e Galante de Manaus), cujo vencedor subiria de categoria, agora disputam o título em igualdade de condições com Corre Campo, Tira Prosa e Garanhão. Pelo sorteio, esses bois se apresentarão na sexta-feira, dia 26, no mesmo local.
Nos anos 50 e 60, as disputas entre Tira Prosa e Corre Campo dividiam a população da zona sul. O bumbá da Cachoeirinha era venerado pelos moradores de Petrópolis, São Francisco e Raiz. Já o bumbá de Santa Luzia tinha o grosso de sua torcida entre os moradores de Educandos, Morro da Liberdade e Bethânia. Era comum as escaramuças entre os dois bumbás quando se encontravam pelas ruas da cidade.
Com o fim do caráter competitivo do festival, que vigorou dos anos 70 aos anos 90, os bumbás tomaram rumos diferentes. O Corre Campo adotou a temática dos bois de Parintins e se transformou em “boi de arena”, com uma maior valorização da estética tribal dos povos originários e a inclusão de novos personagens (cunhã-poranga, pajé, porta estandarte, rainha do folclore, etc).
O Tira Prosa continuou fiel às suas origens de “boi de rua”, tendo como ponto alto a morte e a ressureição do boi-bumbá, mantendo a indumentária típica dos anos de fundação. Somente após o hiato provocado pela pandemia do covid-19 é que o boi resolveu, também, se transformar em “boi de arena” para retomar as disputas com seu antigo rival.
“Foi uma exigência dos brincantes mais novos”, diz o microempresário Ronaldo Matos, responsável pela brincadeira. “Mas vamos tentar manter um pé na tradição, fazendo a morte e a ressureição do boi na primeira parte do espetáculo e o ritual indígena na segunda parte”.
Uma das todas do Tira Prosa presta uma singela homenagem ao saudoso artesão Lauro Chibé, responsável pela confecção de mais de 100 bumbás, façanha jamais igualada por algum artista local em tempo algum:
“A névoa cobriu a floresta / prateou as belas campinas / inspirou os bravos poetas / criadores da nossa história / no luar do céu infinito / nasceu a magia do boi Tira Prosa. / Meu boi bonito / os campos floridos / me fez recordar / desafios minados de ouro / festejos em todo lugar / no clarão da lamparina / iluminava a tradição / madrugada de lua serena / festejando São João. / Alôôôôôô / Lauro Chibé me ensinou / hoje canto pra você / no terreiro iluminado / boi e papel machê / minhas fitas são olhos de vidro / vão encantar você. / Dança burrinha de palha de arroz / estandarte da minha nação / dança, balança, bumba meu boi / folguedo da minha paixão. / Dança burrinha de palha de arroz / estandarte da minha nação / joga o laço meu bom vaqueiro / e traz o novilho do meu coração.”
Os principais itens do bumbá Tira Prosa estão se preparando com afinco para a aguardada disputa que não acontece há mais de três décadas. O curral do boi permanece no mesmo local de sua fundação, no campo do Guanabara, em Santa Luzia, onde as alegorias estão sendo confeccionadas. Que vença o melhor!