Por Luis Fernando Verissimo
Se eu soubesse naquele dia o que sei agora eu não seria este ser que coça a cabeça e não entende mais nada. Naquele longínquo 14 de junho de 1994, quando eu e meu lépitópi, ambos mais jovens e inocentes, descemos no aeroporto de San José da Califórnia, a vida e o futebol pareciam coisas lógicas.
Se um duende do lugar se materializasse na minha frente e me oferecesse a lista dos quatro finalistas da Copa que iria começar dali a três dias, e a lista fosse Brasil, Suécia, Itália e Bulgária, eu o chutaria da minha frente com desdém.
Todos conhecem a história da astróloga que previu o naufrágio do “Titanic”. No dia seguinte ela foi convocada à direção do jornal – e despedida.
– Mas o “Titanic” naufragou! Minha previsão estava certa!
– Não interessa – disse o editor. – A previsão era maluca, e não queremos malucos neste jornal.
– Mas…
– Um horóscopo não precisa estar certo, precisa ter credibilidade. Rua!
Eu chutaria o duende e manteria meu prognóstico racional: Brasil e Itália, sim, e Alemanha e Romênia. Ora, a Suécia e a Bulgária!
Confesso que o Brasil campeão era menos uma previsão do que um PPPC, um posicionamento prático e politicamente correto. Afinal, se não era para acompanhar o Brasil até o Dunga levantar a taça, mesmo não acreditando nisto, o que eu estava fazendo nos Estados Unidos?
A Alemanha estaria nas finais porque este era o lugar tradicional dela e nada indicava que a Alemanha fosse outra. A Itália porque era a Itália. E a Romênia porque sempre há uma surpresa na Copa e havia indícios de que desta vez ela viria de um daqueles obscuros países do meio da Europa que a gente nunca consegue localizar no mapa.
A principal credencial da Romênia para estar na minha lista não era o seu futebol, era que eu não a encontrava no mapa. Possível revelação da Copa 94? A Noruega. Time do qual eu não queria chegar nem perto? A Argentina.
Pensando bem, meu prognóstico não estava tão errado assim. A Romênia das finais foi a Bulgária, um país igualmente incompreensível. Foi bom mesmo manter distante da dramática e explosiva Argentina.
A revelação, em vez da Noruega, foi a Suécia, e só dá para distinguir um sueco de um norueguês pelas impressões digitais. Só resta mesmo explicar a ausência da Alemanha, e isto eu não consigo. Mas ninguém consegue. Estou bem acompanhado.
Felizmente, Brasil e Itália restabeleceram a lógica estremecida e chegam a uma final que não ameaça a profissão de nenhum profeta.