Por Xico Sá
Nunca foi possível irritar tanto as mulheres como nos dias que correm. São as infernais, para elas, mesas-redondas e debates futebolísticos que se multiplicam nas mil e uma noites de domingo, as mais angustiantes das noites.
Caso o cavalheiro deseje provocar uma separação, nada mais aconselhável do que abraçar o controle remoto, desde o crepúsculo dominical, e segurá-lo firme até o “boa-noite” de Roberto Avalone, âncora-mor da peleja esportiva da TV Gazeta, em SP. Em outras praças. A irritação feminina também é de bom calibre.
Longe deste ponta falso que vos fala recomendações que descambem para os desastres do amor. Mas, sinceramente, nenhuma mulher suporta a prosopopeia futebolística.
Você começa ali, sem querer nada, logo ao cair da tarde, com o finalzinho da partida da Série B do Campeonato Brasileiro, Goiatuba (GO) e qualquer coisa. Depois emenda com um videoteipe da série principal, esteja ou não o seu time envolvido.
Refestalado no sofazão, começa a corrida ao estoque de cervas e guloseimas da geladeira. Dúzias de flatulências depois, emenda num campeonato italiano – Rivaldo de bicicleta – tem mais gols do espanhol, eliminatórias africanas, o sururu na área dos britânicos.
Ela, sentindo-se mais agoniada do que aquele povo de O anjo exterminador, vai sugerir um filme cabeçoso, algo com JLG por JLG, de JLG com Jean-Luc Godard. E você abre as portas do lar para a chegada da dupla Kfouri/Kajuru, que inaugura a sessão mesa-redonda da longa noitada.
Mais humilde esteticamente, ela sugere uma película com Nicolas Cage, um policial qualquer. Faz um dengo, um cafuné, ataca por todos os lados. Aí já começou o “Cartão Verde”. Outra zapeada e eis o boa- noite de Avalone e Chico Lang. Não tem mais jeito: nem mesmo um strip-tease na frente da sua 29 polegadas.
No paralelo, o “Supertécnico”, com Milton Neves e seu túnel do tempo. Em outro ponto qualquer do cabo, um diálogo Rivelino e Gerson sobre o Fluminense, a máquina de fazer sorrir torcedor vira um banquete de Platão. Já não será mais uma simples maldade com a parceira. Você está embriagado, no clima, é o nirvana.
E quando ela já pensa em devolver o Neruda… um clique no canal mexicano predileto para fechar com as mais belas “jugadas” do domingão.