Por Xico Sá
Costumo me assombrar muito mais com o sumiço dos velhos costumes, vícios ou manias do que propriamente com as novidades que não cessam de chegar às prateleiras dos ditos novos tempos.
Dia desses, em um colóquio com o asséptico Pereira, discutíamos sobre o desaparecimento do hábito de cuspir e escarrar. Os homens, mesmos os cascas-grossas, os mais ásperos que papel de embrulhar pregos, como diria Paulo Mota, não andam mais cuspindo balas e poeira por aí, mesmo nos dias mais ressacados ou doentios.
Nem mesmo em Exu, terra de um avô deste ultrapassado que vos fala, testemunha-se mais o referido gesto. No vizinho município de Salgueiro, uma plaqueta em um hotel resume o espírito da modernidade: “É expressamente proibido cuspir no chão, limpar o pau na cortina e matar muriçoca na parede.”
A última imagem brasileira que tenho do assunto é a do velho Luiz Carcará, que tomava cachaça e mascava fumo de rolo o dia inteiro. Carcará era capaz de fazer um rastro de cuspe entre os dois quilômetros que separavam sua casa, no lugarejo chamado Silêncio, da bodega do meu pai, no Sítio das Cobras, nobre aldeia tosltoiana do município de Santana do Cariri.
Outro dia, em passeio ultramarinho, vi uns dois ou três gajos dos arredores do D’Ouro em pequenos escarros sem-cerimônia ou reservas higiênicas dos tempos que correm.
Pois, pois, remoçado Pereira, os homens já não cospem em público. Duvido até que ainda estejam a gastar saliva nos solenes momentos da prática do vício solitário, o primeiro dos nossos mais febris pecados.