Por Edson Aran
Imerso numa densa nuvem de mosquitos, Joseph Conrad cochilava na rede imunda. De repente, ouviu o brado e retumbante de seu criado Lothar, o bárbaro. Negro como a fumaça de um barco-a-vapor, Lothar pulava feito ministro da cultura de país subdesenvolvido. Corad deu-lhe uma chicotada no lombo e disse com voz meiga, porém impiedosa:
“Fala, animal!”
“Os gangazumbas abandonar nós durante noite, bwana. Esta terra Grande Macaco Branco. Karma ruim, bwana! Vamos voltar, please!”
Conrad meteu-lhe um chutaço nos bagos e o jogou de cara na lama:
“Os gangazumbas são supersticiosos, animal. Só sairei daqui com o tesouro do Grande Macaco Branco! Por ele já enfrentei os pigmeus de mongaçonga e os horríveis canibais de mambojambo. Não vou recuar agora!”
“Reconsidere, bwana, pôrra!”, gemeu Lothar, antes de levar um murro na fuça e afundar na lama.
De repente, um grito estrondoso se ouviu na floresta. Pássaros voaram das árvores, elefantes saíram em disparada, jacarés subiram nas montanhas, angolanos partiram para a luta armada.
“Oh, God! Que som horrível! Alguém comprou um disco da Gal Costa?!”, disse Conrad, pouco antes de ver saltar na sua frente o Grande Macaco Branco.
A criatura olhou fundo nos olhos de Joseph Conrad e murmurou:
“Mim Tarzan, você Jane!”, ao mesmo tempo em que entregava um enorme cacho de bananas para Lothar. “Valeu, mano. Isso aqui tava um tédio depois que a Chita me trocou por um tal de doutor Linvingstone, eu presumo.”
O Grande Macaco Branco deu uma porrada nos cornos de Joseph Conrad e o arrastou pela trilhas esquecidas na África Negra.
“Agora tu vai ver o que é o coração das trevas!”, disse Lothar enfiando três bananas na boca de uma só vez.
“O horror! O horror!”, gemeu Conrad antes de desaparecer no meio do mato.