Pedro Teixeira é o novo descobridor do Amazonas, o homem da viagem decisiva que incorpora a região a Portugal e, posteriormente, ao Brasil. Na história brasileira e mesmo portuguesa, é um ilustre desconhecido.
Um vereador de Belém, Augusto Meira, depois de quarenta anos de propaganda da figura de Pedro Teixeira, com projetos para imortalizá-lo em nome de praças, ruas, monumentos e brasões, estava em Cantanhede, Portugal, fazendo uma conferência sobre seu herói. Diante de tantos elogios, um espectador quis saber onde o herói havia nascido.
– Aqui mesmo neste fim de mundo! – teria dito Meira, com ironia.
O principal feito desse homem que não conseguiu ser herói na terra natal foi ter subido o Amazonas, fazendo o percurso inverso ao de Orellana, e colocado marcos de posse para a coroa de Portugal (que depois de quase sessenta anos de dominação espanhola tramava sua independência). Saiu de Cametá, perto de Belém, a 28 de outubro de 1637, com 1.200 índios escravos remando 45 embarcações com 87 soldados, para uma viagem de dois anos e 44 dias, até Quito, no Equador.
Em Quito foi recebido pelos espanhóis do governo local “com simpatia ostensiva e desconfiança disfarçada”. No regresso, confirmaria as suspeitas: no encontro dos rios Aguarico e Napo, ponto da atual fronteira Brasil-Peru, colocou marco de posse em nome do governo português, um gesto que deslocava o meridiano de Tordesilhas para milhões de quilômetros quadrados a oeste e depois significaria a incorporação ao território brasileiro de quase metade de sua área atual.
No fim da expedição, com 69 anos, Pedro Teixeira recebeu do governador do Pará uma oferta que na época significava verdadeira fortuna: trezentos casais de índios cativos, mais as terras de suas aldeias. O truculento português passara grande parte da vida matando índios. Matava os que se aliavam aos estrangeiros, os que resistiam à ocupação de suas terras, ou simplesmente à própria escravidão. Quantos índios matou ou mandou matar, não tinha mais conta.
Em trinta anos, na região e na época de suas atividades, estima-se (conforme referência do padre Antônio Vieira) que tenham sido mortos 2 milhões de índios. Mas Pedro Teixeira estava velho, cansado e arrependido. Recusou o presente. Dois anos depois, em 1641, morria. Sem saber que suas ações contribuíram para mudar a geografia política do mundo.
Em 1642, Portugal livra-se da dominação espanhola e a briga pela Amazônia torna-se novamente aberta. Na esteira de Pedro Teixeira sobem o rio Amazonas e seus afluentes expedições militares, sertanistas e missionários portugueses, uns e outros para escravizar índios, buscar especiarias regionais e, simultaneamente, levar a fé e os valores da civilização branca da época.
Em 1669, Portugal precisava garantir a posse da Amazônia ocidental e o capitão Francisco da Mota Falcão constrói um pequeno forte de pedra e barro, às margens do rio Negro, a 14 km do encontro deste com o rio Amazonas. Em torno do forte cresceu um aglomerado de palhoças, a futura capital do Amazonas. Em torno de Manaus os portugueses encontraram a mais dura resistência dos nativos.
No vale do rio Negro, entre o rio Amazonas e o rio Branco, viviam os orgulhosos índios manaós, adoradores de Manari, o senhor do bem, que lhes ordenava combater os invasores da floresta. Eles receberam violentamente os primeiros portugueses. Posteriormente, um habilidoso sargento da guarnição, Guilherme Valente, casou-se com a filha de um dos caciques e a revolta amainou. Pacificados, os portugueses passaram a escravizá-los.
Em 1723, um líder extraordinário os leva de novo à revolta, desta vez com fúria inaudita. Ajuricaba era filho do cacique Huiuiebeue e neto de Caboquena, dois dos maiores chefes manaós. Havia herdado do avô a aversão pelos conquistadores. Quando seu pai aceita a paz dos brancos, ele abandona a tribo. Volta para chefiá-la quando Huiuiebeue é assassinado por um colono e, em torno de seu nome, une a maior confederação indígena de que se tem conhecimento na história da Amazônia.
Quando a notícia da revolta chega a Belém, todas as nações índias do rio Negro já participavam da guerra. Em 1727, Belchior Mendes de Morais, chefiando uma “tropa de resgates”, nome dado às incursões de colonização (ou seja, punição e escravização) de índios, consegue derrotar os confederados e aprisionar Ajuricaba, que, para não ser levado preso a Belém, se jogou, algemado, no encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Simultaneamente com a guerra aos índios, os portugueses lutavam para transformar em fato consumado o ostensivo desrespeito que vinham fazendo ao Tratado de Tordesilhas.
Em 1689, num memorial apresentado às autoridades de Belém e ao vice-rei do Peru, o missionário Samuel Fritz, pago pela coroa espanhola, denuncia a presença de sertanistas luso-brasileiros já no rio Marañon, além da atual fronteira com o Peru e a Colômbia. Fritz fez a primeira carta do rio Amazonas e seus afluentes, lutou contra os portugueses e brasileiros que subiam o rio, arregimentou indígenas, fundou aldeias. Em vão. Quando foi preso em Belém, em 1710, todo o vale do Solimões já era, de fato, domínio de Portugal.