Boemia

Paladino

Postado por Simão Pessoa

Por Jaguar

Navegando na Internet, minha mulher deparou com a home page de Martinho da Vila. Nela, com autoridade de quem frequentava botecos de priscas eras e é dono de um Butiquim do Martinho, no Shopping Iguatemi, o grande sambista e maior boêmio (ou vice-versa) pontifica sobre o momentoso tema:

“Butiquim é mesmo um templo onde os solitários se sentem bem acompanhados com seus copos, pensado… pensando… Nada melhor que um amigo de boteco, porque eles não se visitam nas casas e nem pedem dinheiro emprestado. Só falam de mulher, de futebol, de samba e de política, sem discutir de forma tensa, visto que ninguém vai a um buteco para esquentar a cabeça. Bom para fazer amizade, o bar é realmente um lugar sagrado, onde um amigo quase oculto dá ótimas dicas para solução de problemas materiais ou de ordem sentimental. Funciona também como um consultório democrático, onde ora se é paciente, ora se é analista. É um santuário descontraído, já que todo butiquim que se preza tem que ter imagens de santo, pois as mesas quase sempre se transformam em alegres confessionários. Nos tempos atuais butiquim é também lugar de mulher”, concede.

Entre os muitos botecos que se encaixam dentro da definição do mestre Martinho, o quase secular Paladino (tem 90 anos) seria pule de 10 se tivesse algum santo. Mas, em compensação, tem dois Bacos esculpidos em madeira.

O Paladino não tem cozinha, só serve bebidas e sanduíches. Foi lá que, outrora, comi meu primeiro sanduíche de salaminho. De quente só uma omelete esperta, mista ou com salmão. É um dos últimos bares que são também mercearias – o mais famoso, a Casa Pardelas, fechou há anos; que eu me lembre só restam o Paladino e o Villarino, em frente à Academia Brasileira de Letras, onde o imortal João Ubaldo, quando bebia, sempre dava meia trava para dois ou três uisquinhos antes do chá das quintas-feiras com seus colegas imortais. E o Lidador, que finalmente reabriu o pub lá nos fundos da casa. Um protesto: não serve cerveja, nem importada.

Nada mais repousante do que escapar da agitação do Centro e sentar numa das mesinhas do Paladino com vista para o bar, e ficar contemplando as antigas prateleiras de madeira lavrada e a imponente caixa registradora do tempo em que o grande caricaturista Calixto frequentava o local. Outro charme da casa é o pé-direito alto- não se fazem mais pés-direitos como antigamente – e a coluna de ferro que separa a mercearia do bar e que é, de vez em quando, atropelada por algum cliente mais calibrado.

Paladino. R. Uruguaiana, 224. Centro. Tel. 263-2094. De segunda a sexta, das 7 da manhã às 8 da noite.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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