Boemia

Petisco da Vila e Bar do Costa

Postado por Simão Pessoa

Por Jaguar

O visconde de Abaeté merece um brinde; a rua que leva seu nome, em Vila Isabel, é uma das mais bem-dotadas do Rio em matéria de botequim. Na esquina da Torres Homem fica o Bar do Costa, a uma quadra do Petisco da Vila, na esquina da 28 de Setembro.

O Petisco, na verdade, é bar e restaurante, mas é só a gente pedir um croquete de carne com chope que se transforma num boteco para boêmio nenhum botar defeito. Tomei grandes porres lá com Carlinhos de Oliveira quando ele emigrou do Antonio’s, no Leblon, para a Vila.

Duas figuras legendárias do bairro moravam na Visconde de Abaeté: Perna e Candonga. Devem estar agora tomando cerveja com Carlinhos e Noel Rosa no Bar Paraíso, arrendado pelo Armando, do Bracarense.

O Candonga está imortalizado no Espaço Candonga, no Sambódromo, no local do recuo das baterias; ele estacionava ali, em plena pista, seu velho Opala e distribuía sanduíches e a cerveja mais gelada do planeta para a rapaziada.

E era bem no meio da Visconde de Abaeté, em frente ao Petisco, que o Perna promovia sua tradicional ceia de Natal numa mesa que ocupava quase todo o quarteirão.

“Quem tem põe, quem não tem tira” era a palavra de ordem. O Morro dos Macacos descia em peso para se regalar com panetones, rabanadas, frangos, perus, frutas e o escambau oferecidos pelos moradores do pedaço.

Ele tinha uma frase pertinente para cada ocasião. Me lembro de uma que Confúcio assinaria embaixo: “Barata não atravessa galinheiro.” Outra, que o Jamelão consagrou internacionalmente durante a visita de Clinton à Mangueira: “Feliz como pinto no lixo.”

Quando morei numa vila na Vila, na rua Oito de Dezembro, quase no limite com a Mangueira, costumava jantar no Petisco e a tomar a saideira no Bar do Costa.

Só de me lembrar dos tira-gostos fico com água na boca. A moela é campeã, seguida de perto pelo bolinho de bacalhau e o de carne-seca com aipim, mas topo democraticamente discutir o assunto com os que discordarem até a hora do bar fechar, à uma da manhã.

É de Cláudio Vieira, meu coleguinha de jornal e autor do antológico A História do Brasil são outros 500, uma reclamação que acaba sendo um baita elogio:

– O Bar do Costa é uma pedra no caminho de quem vai fazer cooper no Maracanã ou resolver algo importante na 28 de Setembro. Eu, por exemplo, tive que enfrentar esse problema diversas vezes. Determinado a diminuir a barriga, fui desviado da rota por vários motivos justos. Como a cerveja permanentemente gelada, inclusive nos dias tórridos de verão. Perde-se o compromisso com a saúde, mas em compensação ganham-se preciosas calorias e amizades como a do brilhante compositor, escritor e produtor cultural Nei Lopes.

Aproveito a deixa para agradecer ao Manoelzinho, dono do Petisco. Na época em que morei na Vila estava mais duro que cassete da polícia no lombo dos sem-terra e ele “esquecia” de descontar meus choques sem fundo.

Bar do Costa. Rua Torres Homem, 150, esquina da Visconde de Abaeté. Vila Isabel. Tel. 204-0240. De segunda a sexta, das 8 da manhã à meia-noite.

Petisco da Vila. Av. 28 de Setembro, 238. Vila Isabel. Tel. 576-6321. Todos os dias, das 10 da manhã às 2 da madrugada, sexta e sábado estica até o último boêmio.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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