Por Marcos Vasconcellos
Vitorino Freire, pernambucano da cidade de Pedra, era um osso duro de roer. Senador da República, por três mandatos, Vitorino era uma espécie de vice-rei no Norte-Nordeste e dominava todos os currais eleitorais da região. Ele foi o preceptor de José Sarney antes da criação da dinastia do ex-presidente no Maranhão.
Um belo dia um primo seu – Jurandir Brito – que era uma fera, matou de maneira cruel, pelas costas, um desafeto na cidade de Arcoverde e foi a julgamento depois de confessar orgulhosamente o crime.
– Couro de cabra ruim eu boto pra bichar – ele dizia.
Resultado: pena de vinte e oito anos e seis meses.
Jurandir levantou-se, chamou todos os jurados de cornos, o juiz de viado, e berrou em pleno Tribunal:
– Arredonda pra 30 anos, cambada de frouxos, que eu não quero ficar devendo nenhum favor a vocês!
O júri arredondou.
Uma semana depois, Jurandir Brito era solto por falta de provas. É para isso que servem os primos poderosos nesse conto de fadas chamado “justiça brasileira”.