Por Marcos Vasconcellos
As famílias de colonos, retirantes, miseráveis, açoitados pela seca, ocuparam uma parte ínfima das grandes terras do latifundiário Janjão, no sertão pernambucano, e ele foi expulsá-los de lá.
– Mas o padre disse que a terra pertence a Deus – disse um mais afoito –, que a terra é de todos nós, os degredados filhos de Eva…
– Isso é lá pras negras dele! – berrou Janjão, e foi à aldeia tomar satisfações com o padre.
O padre era um holandês moderno, desses que usam calça jeans, óculos rayban, fuma cigarro mentolado e, para dar um ar de bacanidade, soltava fumo pela venta.
Janjão o encontrou no meio da missa, instruindo os fiéis com um sermão, e foi entrando mais os dois jagunços, chapéu na cabeça, carabina 44 papo-amarelo na mão, anunciando:
– Vou só lhe dizer uma coisa, seu baitola fio de uma puta…
– Isto aqui é a Casa de Deus! — protestou o padre, erguendo um crucifixo.
Pura perda de tempo.
– A terra é minha, seu corno velho, comprei com meu dinheiro, seu fio da puta, e quem aparecer lá sem minha licença vou lhe mostrar o que sucede.
E deu dois tiros para o ar, destruindo o forro de gesso da edificação santa.
Não satisfeito, ordenou ao povo que estava na igreja, perplexo:
– Agora, quero ouvir todo mundo cantando “Ó Jardineira por que estais tão triste…”
E em Rio Branco, ex-Arco Verde – ou vice-versa –, um coro aterrorizado entoou inteira a marchinha “Jardineira”, composta por Humberto Porto e Benedito Lacerda para o Carnaval de 1939, regido pela competente batuta 44 papo amarelo do maestro Janjão.