Por Marcos de Vasconcellos
O escritor, de um modo geral, quer saber o que acham do seu livro, sobretudo os recém-lançados à (pouca) curiosidade pública. Sérvulo Tavares não fugia à regra:
– Já leu o livro que te mandei?
O outro, mentindo descaradamente:
– Estou lendo, Sérvulo. Livro teu, leio devagar, saboreando.
– O que você está achando da personagem principal?
(E agora? – pensou o pobre leitor.)
– Bem, Sérvulo… Acho um sujeito muito dividido, muito cheio de dúvidas…
Sérvulo, insaciável:
– Você já desceu a montanha enluarada?
(Essa agora!… – gemeu o perguntado.)
– Acho que estou chegando lá… Passei os olhos no geral…
Sérvulo protestou:
– Porra, bicho, mas um cara inteligente feito você só consegue dizer isso?!…
Do outro lado do telefone, o interlocutor não sabia onde se esconder.
Sérvulo telefona para Paulo Mendes Campos, a voz chorosa:
– Paulo, minha mulher está aqui me espinafrando dizendo que eu não faço nada. Você é minha testemunha! Diga a ela o que você achou do roteiro que eu fiz para “Hamlet em Botafogo”! Diga a ela!
Paulinho não tinha a menor ideia dessa aventura botafoguense do pobre príncipe dinamarquês e resolveu apelar:
– Ainda não terminei de ler, Sérvulo, mas o enredo, além de criativo, é simplesmente genial…