Dezembro de 2017. Famoso pelos gritos de guerra “Arrepia, Salgueiro, pimba, pimba”, “Ai, que lindo, que lindo”, “Que bonitinho”, o sambista Quinho do Salgueiro estava há dois dias em Manaus, totalmente destrambelhado, e foi tomar umas cervejas no Bar Canto do Fuxico, junto com a rapaziada da Banda da Caxuxa.
Era um início de tarde. O sambista tinha devorado meia banda de tambaqui assado no restaurante do Beto Belota, que funcionava ao lado do boteco, e agora estava praticamente morgando numa das mesas do bar, depois de ter ganho uma camisa do bumbá Garantido.
Lá pelas tantas, ele saiu do seu quase torpor e foi direto ao assunto:
– Porra, moçada, tô muito a fim de cheirar uma carreirinha… Alguém aqui pode fazer uma presença?…
Ouvindo aquilo, o empresário Emerson Tracajá se levantou da mesa, foi até sua picape, pegou um saco plástico de 500 gramas de pó, jogou em cima da mesa do sambista e cantou a pedra:
– É do cartel de Cáli, negão, coisa de primeira, chegou hoje na cidade! Dá pra ver que é ultra refinada, mas vai devagar com o andor que a pureza é de 99%…
Quinho do Salgueiro tomou um susto:
– Qualé, mermão, quer que eu seja preso? Leva essa porra daqui! Leva essa porra daqui! Se a Federal me pega com isso, dá uns 15 anos de cadeia… Tá ficando doido, porra?… Tá ficando doido?…
Aí, se levantou da mesa pálido que nem um defunto, assustadíssimo, com o coração quase saindo pela boca, começou a balançar a cabeça negativamente como quem diz silenciosamente “que roubada, cumpadi, que roubada!”, e deixou o boteco apressadamente para se refugiar no restaurante do Beto Belota, de onde não tirou mais os pés até embarcar para o Rio de Janeiro no dia seguinte.
Morrendo de rir, o empresário pegou o saco plástico em cima da mesa e foi guardar na picape.
Tratava-se de fécula de mandioca em pó, também conhecida como “goma de tapioca”, que ele comercializa há 10 anos. Aquele Emerson Tracajá não vale bosta.