Causos de Bambas

Quinho do Salgueiro no Canto do Fuxico

Hilário Prado, Luiz Lobão e Quinho do Salgueiro
Postado por Simão Pessoa

Dezembro de 2017. Famoso pelos gritos de guerra “Arrepia, Salgueiro, pimba, pimba”, “Ai, que lindo, que lindo”, “Que bonitinho”, o sambista Quinho do Salgueiro estava há dois dias em Manaus, totalmente destrambelhado, e foi tomar umas cervejas no Bar Canto do Fuxico, junto com a rapaziada da Banda da Caxuxa.

Era um início de tarde. O sambista tinha devorado meia banda de tambaqui assado no restaurante do Beto Belota, que funcionava ao lado do boteco, e agora estava praticamente morgando numa das mesas do bar, depois de ter ganho uma camisa do bumbá Garantido.

Lá pelas tantas, ele saiu do seu quase torpor e foi direto ao assunto:

– Porra, moçada, tô muito a fim de cheirar uma carreirinha… Alguém aqui pode fazer uma presença?…

Ouvindo aquilo, o empresário Emerson Tracajá se levantou da mesa, foi até sua picape, pegou um saco plástico de 500 gramas de pó, jogou em cima da mesa do sambista e cantou a pedra:

– É do cartel de Cáli, negão, coisa de primeira, chegou hoje na cidade! Dá pra ver que é ultra refinada, mas vai devagar com o andor que a pureza é de 99%…

Quinho do Salgueiro tomou um susto:

– Qualé, mermão, quer que eu seja preso? Leva essa porra daqui! Leva essa porra daqui! Se a Federal me pega com isso, dá uns 15 anos de cadeia… Tá ficando doido, porra?… Tá ficando doido?…

Aí, se levantou da mesa pálido que nem um defunto, assustadíssimo, com o coração quase saindo pela boca, começou a balançar a cabeça negativamente como quem diz silenciosamente “que roubada, cumpadi, que roubada!”, e deixou o boteco apressadamente para se refugiar no restaurante do Beto Belota, de onde não tirou mais os pés até embarcar para o Rio de Janeiro no dia seguinte.

Morrendo de rir, o empresário pegou o saco plástico em cima da mesa e foi guardar na picape.

Tratava-se de fécula de mandioca em pó, também conhecida como “goma de tapioca”, que ele comercializa há 10 anos. Aquele Emerson Tracajá não vale bosta.

Sobre o Autor

Simão Pessoa

nasceu em Manaus no dia 10 de maio de 1956, filho de Simão Monteiro Pessoa e Celeste da Silva Pessoa.
É Engenheiro Eletrônico formado pela UTAM (1977), com pós-graduação em Administração pela FGV-SP (1989).
Poeta, compositor e cronista.
Foi fundador e presidente do Sindicato de Escritores do Amazonas e do Coletivo Gens da Selva.

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