Abril de 1979. O jornalista Sebastião Assante era um exímio dançarino de bailes de salão e sempre que podia se aventurava em um arrasta-pé. Bem casado, tranquilo, de bem com a vida, ele se limitava a ir para os bailes e dançar até se esbaldar. Encerrado o expediente, ia pra casa sem nenhum remorso.
Seus parceiros habituais nos bailes e festas da cidade, mais interessados em aventuras sexuais do que em exibições dançantes, começaram a espalhar nas redações dos jornais que Assante era um “autêntico cansa-puta”. O jornalista ficou mordido.
Uma noite, logo depois de um baile no São Raimundo, Sebastião Assante resolveu acompanhar os parceiros nas estripulias sexuais da pós-festa. Uns dez casais saíram da sede do clube direto para a deserta praia da Ponta Negra. Sebastião Assante e uma cabrocha chamada Rosenira faziam parte da comitiva.
Na escuridão da praia, os casais se afastaram uns dos outros para deixar a Natureza seguir seu curso sem olhares curiosos. Sebastião Assante e Rosenira ficaram pelados e também começaram a namorar.
Quando estavam no meio do bem bom, Assante deu uma conferida no relógio de pulso: cinco horas da manhã. Era a hora em que sua esposa acordava para fazer o café da manhã da garotada.
Ele não contou conversa. Desvencilhou-se da cabrocha apressadamente, vestiu a roupa na velocidade do Flash e se mandou pra casa. Entrou pé ante pé. Para sua sorte, sua esposa ainda estava dormindo.
Quando começou a se despir para entrar no banheiro e exterminar as marcas do pecado, sua mulher acordou. Ele havia acabado de tirar a camisa.
– Estava aonde até agora, amor? – ela indagou.
– Trabalhando na redação do jornal! – explicou Assante. – Fechei a primeira página junto com o Peri Augusto, sai, fui até a Eduardo Ribeiro, peguei o carro e vim pra casa – continuou, enquanto retirava a calça.
– E como é que você está sem cueca? – quis saber sua mulher.
Assante olhou pra baixo. Sim, ele havia esquecido a porra da cueca na praia da Ponta Negra. A pressa é inimiga da perfeição.
Tentou a única cartada que lhe parecia possível. Batendo na cabeça, como se quisesse lembrar alguma coisa, ele atalhou:
– Puta que pariu! Esqueci de te contar que também fui assaltado no canto da Joaquim Sarmento com a 24 de Maio, assim que saí da redação…
Sem esboçar nenhuma reação de espanto, sua esposa insistiu na questão fulcral:
– Foi mesmo? E por que eles não levaram o teu relógio Mido, a tua corrente de ouro, o teu anel de pedra preciosa, a tua carteira porta cédulas… Por que foi que eles levaram apenas a tua cueca de copinho, que já estava meio puída?…
Até hoje o Sebastião Assante não sabe explicar o incidente.